31.12.09

2010 i l Nino Jasus de la Cartolica

Uns tiempos atrás andaba iou a saber de la cuonta de Nino Jasus de la Cartolica na lhéngua mirandesa i nun la achei. Solo an pertués ye que la bi na anterneta. Assi, i cume esta ye ua lhenda de spráncia i un bózio cuontra todo l que achamos perdido, eiqui la traio neste cibo que sobra de 2009 cul deseio que 2010 seia l melhor anho que cada un puoda querer.

“La lhenda de l Nino Jasus de la Cartolica ye de l anho de 1711 (mil sietecientos i onze) quando Miranda de l Douro staba arrodiada de tropas spanholas i quaije a cair nas manos deilhes porque las sues muralhas eran de muita amportáncia estratégica. L pobo nun tenie ganas de lhuitar porque yá muitos meses que la cidade staba cercada i l eisército que debie de ajudar aquel pobo, benido de Algoso, Outeiro, Peinhas Róias, Mogadouro i Bregáncia nunca más chegaba.
Anton, un nino çcuincido, c’un chapéu de palhas, botou-se a correr pulas rugas gritando acuontra ls spanholes i chamando las personas para lhuitar i defender la cidade. Nistante saliu todo mundo, cun çacholas, machadas, tornadeiras, roçadeiras, fouces i gadanhas, l que tenien a la mano i que pudisse ajudar na batalha, ounindo-se a ls soldados yá cansados e çfalhecidos. Todos juntos ampuntórun las tropas spanholas para fuora de las tierras de Miranda i quando la batalha acabou, las personas buscórun l nino refilon i abintureiro que ls habie ajudado. De nada l baliu i naide l achou, habie dzaparcido.
L pobo ancreditou-se que habie sido l Nino Jasus que eilhi apareciu para salbar la cidade. I lhougo mandórun fazer ua eimaige para poner nun altar de la Sé Catedral. Nesse antretiempo, ua rapaza que na mesma batalha habie perdido l moço, un oufecial de las tropas pertuesas, fizo ua farda de capitán i dou-la al nino. Dende naciu la tradiçon de l dar roupas. Cunta-se que puode poner ua defrente todos ls dies. Muitos anhos aspuis achórun que l chapéu de palha nun quedaba bien cula nobreza de la farda brumeilha de melitar nien tampouco cula posiçón de quemandante i ponirun-le ua cartola.
I que bien que le queda!”


Buonas tardes
i melhores antradas no anho nuobo.

29.12.09

Noite de consoada


A St-Laurent estava quase deserta. Não fossem os enfezados enfeites luminosos, a pingar das árvores despidas e famélicas, que pintalgavam os restos de neve arremeçados contra os bordos dos passeios, nem se acreditaria que era a noite de consoada.
O homem, ainda novo, quarenta anos mal feitos, caminhava com passada mole, sem destino, num remar cansado contra a noite infindável. Vergavam-no o peso das recordações que lhe tinham cravado a dentuça no pescoço e teimavam, raivosas, em não lhe dar tréguas.
As mais antigas, nebulosas mas ainda assim felizes, eram fragmentos cada vez mais esboroados das consoadas da infância em Miranda: a crepitante fogueira acesa pelo entusiasmo da rapaziada, carradas e carradas de lenha queimadas num imenso braseiro que alimentavam noite fora as labaredas esfomeadas de chegar ao céu; a missa do galo, na Sé enregelada, com a ladainha do padre a ressoar pelas imensas naves , tão interminável que até impacientava o seráfico Menino Jesus da Cartolinha como sempre regaladamente instalado na sua guarida; o silente regresso a casa, a paz pousada como pombas brancas nos beirais dos telhados, os passos a ressoar nas pedras lisas e escorregadias da calçada medieval.
Nos primeiros anos em Montreal, lar de imigrantes aturdidos em busca de sentido para a nova vida, eram noites tristes, cheias de saudades mal saradas, de lágrimas furtivas da mãe sufocadas pelos cantos da casa, disfarçadas por sorrisos apagados.
Já homem feito, numa fuga constante às fragilidades coladas para sempre à pele, as noites de consoadas eram passadas, nas mais diversas e inesperadas circunstâncias, ao sabor das suas relações amorosas frívolas, inebriantes, sem cadeias. Quando as coisas corriam para o torto, havia sempre os braços abertos da casa dos pais, as eternas bolas mirandesas, o calor duma alegria mais resignada e o vozeirão sadio do pai repleto de recordações. Era a elas que se agarravam todos com a fúria de náufragos num mar estranho a que nunca pertenceram por inteiro.
Estava, agora mesmo, a ouvir a voz do pai: que rapaz este, recordas-te mulher?, não havia presente de Natal que lhe servisse. Só tinha olhos para os canivetes mirandeses, até lhe saltavam os olhos da cara quando via um nas mãos de alguém. Ainda mal se sustinha nas pernas, parecia um cachorrito a saltar atrás de quem lhe mostrasse o dianho dum canivete. - As palavras rudes ensopavam-se de lágrimas ternurentas. - Nunca vi uma coisa assim, o garoto parecia enbruxado.Como é que se podia dar um brinquedo desses a uma criança! Só se fôssemos doidos..
A mãe, sombra diáfana, sorria, passava-lhe a mão protectora pelos cabelos e, sem que eles se apercebessem, ia-se despedindo aos poucos do filho, do marido, soltas, desde há muito, as amarras ao cais da vida.
O falecimento dos pais quebrara a derradeira ligação umbilical aos prados floridos da infância. O fascínio dos canivetes fora, para sempre, assim o acreditara,vencido pelo do mistério das mulheres. Mas com o correr da vida, principalmente nesta época do ano, face a face com as recordações assanhadas, cada vez se apercebia, com mais crueza, da fraqueza das raízes que o agarravam ao chão que pisava, da sua solidão. Uma solidão imensa, dolorosa, que lhe perfurava as entranhas e abria sulcos profundos de tristeza que nada, nem mesmo as mais envolventes aventuras amorosas, podia sarar.

Quando chegou ao Parc du Portugal, as pernas trémulas recusaram continuar a caminhada sem norte, forçaram-no a sentar -se num banco mesmo à beira do fontanário donde o leão de pedra da bica, seca nesta época do ano, o observava meio intrigado. Mais à frente, o padrão dos descobrimentos, esguio e esbranquiçado, na sua frieza pétrea, era sentinela vigilante, indiferente à sua presença. No telhado do coreto, os pombos encolhiam-se uns contra os outros para se protegerem do frio cortante e também não lhe prestavam atenção. Só o manto de neve que cobria a calçada do parque é que rastejava ao seu encontro para o envolver no seu abraço frígido.
Enregelado, estava disposto a erguer-se, prosseguir o calvário da caminhada, quando, assombrado, pressentiu um vulto sentado a seu lado. Sem pinga de sangue, olhos dilatados de espanto, reconheceu logo a figura inconfundível do Menino Jesus da Cartolinha: rosado, a cartola na cabeça, todo aperaltado na sua farpela de cetim bordado a oiro dos dias de festa, um sorriso fraterno desenhado nos lábios infantis.
A um gesto do Menino, o parque animou-se rapidamente. Um grupo de anjos desceu do céu, instalou-se no coreto com um farto instrumental de harpas, cítaras e flautas que encheram a noite com a magia da sua música celestial. Logo de seguida, dois outros anjos, surgidos do frio, desdobraram alva toalha de linho sobre a neve e serviram em silêncio, uma frugal ceia de consoada composta de pão de centeio, salpicão e presunto.
O Menino, sorridente, retirou da algibeira da casaca um belo canivete de cabo de madeira esculpido que ofereceu ao homem.
- Reconheces? É o canivete dos sonhos da tua infância. Podemos começar a cear.
O homem lentamente, num ritual litúrgico, a saborear cada instante, cortou o pão em longas e suculentas fatias, o salpicão em rodelas finas e sumarentas, o presunto em lascas rosadas, com firmeza e uma sabedoria que só podia nascer do fundo da memória ancestral.
Faltava o vinho mas logo da boca do leão do fontanário começou a jorrar um bica-aberta fresco e capitoso que recolhiam na concha das mãos e sorviam deliciados.
Finda a ceia, os anjos recolheram os restos das vitualhas e os instrumentos musicais e evolaram-se, sem ruído, nas profundezas da noite. O Menino Jesus da Cartolinha, um tudo nada mais corado pelos efeitos do vinho, demorou um último olhar nos olhos do homem e preparou-se para partir também.
- O canivete - balbuciou o homem.
A suave mão do Menino aflorou-lhe o ombro.
- É teu. É o teu presente de Natal.
Quando, instantes depois, com passo firme e decidido, o homem regressou ao seu apartamento, com o canivete no fundo da algibeira, era a criança mais feliz do mundo.

14.12.09

Curso de mirandés

La Associaçon de Lhéngua Mirandesa bai a ampeçar un nuobo curso de einiciaçon a la lhéngua mirandesa (fala i scrita).
L curso bai a ampeçar ne l die 6 de Janeiro de 2010 i será dado todas las quartas antre las binte i las binte i dues horas, cuntinando até la fin de júnio de l mesmo anho.
L curso bai a ser dado na Oxford School, na Abenida Marqués de Tomar, an Lisboua, tenendo cumo porsores Amadeu Ferreira i Francisco Domingues.
Las anscriçones puoden ser feitas pa la caixa de correio cursomirandes2@gmail.com L númaro de anscritos será lhemitado, de modo a que puoda funcionar bien.
L curso tenerá cumo blogue oufecial http://cursodemirandes.wordpress.com Ende se passará a falar de todo l que antressa al curso, se publicaran testos i se fazerá muita de la quemunicaçon antre ls partecipantes ne l curso.

L curso será de grácia.

8.12.09

Al correr de la bida - Padre Zé por el mesmo (II)

Anhos setenta de l passado séclo
Tiu Claudino Chaina - cunhado, Tiu Albino Modarra - pai, Tie Prudéncia - armana - Padre Zé

(cuntinuaçon)
Cinco anhos despuis, mie mai achou-se outra beç anferma. Todo l santo die se queixaba i lhastimaba. Arrimaba-se a las paredes gemendo i you dezie-le: ide pa la cama. Porque nun ides pa la cama? A la nuite apareceiu mie abó Pordéncia, mai de mie mai, i dixo:
- Los rapazes bénen cumigo, ban a quemer i drumir a mie casa que eiqui hoije nun se puode drumir.
Alhá fumos. Na manhana seguinte chegou miu tiu Juan Manulon, armano de mie mai, Eimília Manolona i dixo: Buossa mai, hoije a la nuite, tubo ua nina mui guapa. Quemei i bamos a bé-la. I alhá fumos. La mie prima dixo: Tenes ua armana mui guapa, bieno esta nuite nun barco pul riu abaixo i buosso pai fui alhá a buscá-la i trazé-la para casa. Miu armano dixo: Que la métan outra beç no barco i que la boten pul riu abaixo. You peguei na nina pa la arrolhar. Assi nó, dixo mie prima, la mano squierda pon-se por baixo de la cabeça senó pon-se zmanchada.
Passiei cun eilha no sobrado. Trata-se agora de l poner un nome, dixo miu pai. Bai-se a chamar-se Raquel i dixo la mie prima: Raquel Raque Raqu!!! Isto ye nome de giente? Parece l nome de los ratos a rober. – Çque you estube an Santulhão i an Carção i habie alhá ua moça mui guapa i prestable i you gustei desse nome.
I dixo mie abó: You sou Prudéncia i solo hai más ua eiqui no lhugar, gustaba que houbisse outra para l nome nun acabar. Por fin miu pai dixo: será anton Prudéncia da Conceição.
Dá-se un causo mui ralo nas famílias, na mie, los trés nacimos nun die 18 de l més: you a 18 de Nobembre, cume dixe; miu armano a 18 de Maio, mas no belhete d’eidentidade ponírun l die 19 porque talbeç naciu aspuis de la meia nuite; mie armana a 18 de Márcio. Más tarde, mie armana más nuoba eirá a nacer l die 18 de Júnio de 1936, yá you andaba no seminairo, Einácia.
La mie prima Bárbela naciu no mesmo anho que you, an Márcio, i you an Nobembre, uito meses de defréncia. An pequeinhos andebimos siempre juntos i eilha era afelhada de mie mai. A las bezes antraba an mie casa i iba chamando: Á madrina, á madrina. You pensaba que mie mai nun podie ser sue madrina porque era mie mai. Iba i ponie-me a la frente deilha: Nun puode ser tue madrina, ye solo mie mai. Chegou a tener miedo de mi i antes de antrar miraba a ber se you staba. Parecie-me que debie chamar tie Eimília ou anton la mai de Jesé: ciúmes de nino assi cume you tube ciúmes de l mono que bieno aspuis de mi i cume miu armano tubo de mie armana: Botai-la outra béç al riu. Cume mie armana Prudéncia tubo ciúmes, que para cuidar de Einácia i por esso tubo que deixar la scuola.
.
Buonas tardes
i buonas leituras

7.12.09

Al correr de la bida - Padre Zé por el mesmo (I)

You naci an Cicuiro an 18 de Nobembre de 1920.
La mie tierra ye pequeinha, talbeç de las más pequeinhas, mas tenie i ten trés nomes: Cicouro, an pertués; Cicuiro, an mirandés; i Cicuero, an castelhano. Stá a menos de 1 km de la raia, nua sierra que ten l mesmo nome. L sou nome, dízen, ben de l lhatin chicorium, de l grego kicoriun i no plural cicoria. Diç Leite de Vasconcelos que eilhi habie muita chicória (ua alface más dura que la normal i que purifica l sangre). Éran ls monjes de Moreiruola que la trabalhában cul nome de quinta San Juan. La sierra a que stá abrigada ten 4 Km de cumprido – ouriente poente – i ten 920m de altitude ne l termo de l Castielho.
Cicuiro i Custantin, a 3Km un de l outro, formában ua freguesie an que la cabeça staba an Cicuiro i los pies an Custantin. Mui mal, porque la Junta quedaba an Custantin i l Regidor an Cicuiro. Aquilho nun andaba nien zandaba.
Mius pais dórun-me un nome que ye más quemun do que próprio: José Francisco Fernandes. Hai ne l cunceilho de Miranda más de duzientos cun este nome. Solo citando ls pais se çtínguen i an berdade este miu nome fai un berso de siete sílabas: José Francisco Fernandes. Quando fiç las bodas de diamante – sessenta anhos de missa – acrecentei l nome de Juan. Hai apelhidos an Cicuiro cun esse nome. L miu tiu Manulon, chamaba-se Juan de Dius Juan. Mie mai Eimilia Rosa Juan.
Las mies purmeiras lhembráncias: na nuite eisata an que fiç dous anhos i meio dou-se un causo na casa de mius pais que solo cula muorte you squecerei. You cunto: mius pais drumien na sue cama i you nua xerga de l miu tamanho, no suolo de l sobrado para nun me cair. A altas horas de la nuite c’ua lhuç acordei i culas falas que habie no sobrado. Abri los uolhos i beio anton miu pai c’ua candeia de azeite acesa i alhebantado. Dues ou trés mulhieres an buolta de mie mai de piernas stendidas. You preguntei: que stais a fazer? Ides a cortar ua pierna a mie mai? Bamos si, mas tu agora tapa-te i drume senó cortamos-te tamien ua pierna a ti. Nó, nó, you nun quiero. Tapei-me i drumi. Nas manhanas seguintes bi que mie mai tenie las dues piernas cume you. Antón nun la cortórun? Bi que eilha traie un mono de palo, assi me pareciu, agarrado i anrebulhado nun xal. Bie que chubie i abaixaba las scaleiras. Aquel mono de palo que mie mai siempre traie anrebulhado no xal i nun lo lhargaba más (a mi ye que me lhargaba) abrie i cerraba los uolhos. You fiç un malo juízio, mie mai até parecie tonta cuidando tanto daquel mono i a mi deixaba-me d’aparte … cunfesso, á mai que a los dous anho i meio tube un malo pensamiento, perdonai-me alhá de l cielo. Las mais perdónan siempre a los filhos, mas nun sei porquei dar tanta amportáncia a un mono i a mi deixar-me de parte. Más tarde pensei que se calhar aquel mono era giente cume you i que haberie no mundo outras gientes cume you i que nun staba solo neste mundo. L mono que abrie i cerraba los uolhos era miu armano Abílio a que mie mai cun muitos beisos le habie dado la bida.
Purmeira parte de l testo publicado na fuolha mirandesa de l Jornal Nordeste an 17-11-2009

27.11.09

Puço

Al mirar para este retrato i pal puial adonde tie Marie da Cruç stá sintada bieno a la mie eideia un perro de sou nome "puço". Era un perreco de Arlinda, inda nuobico, quelor de burro a fugir i siempre cun ganas de fiestas cume quaije todos ls perros pouco más que mamones.
Antón, naqueilha nuite, aspuis de la cena de lhimpa an casa de tie Marie iou i Ilídio Patarrin(?) - se la mimória nun me atraiçona - fumos pa la ruga i quedemos meio sintados nesse puial c'ua bota de bino nas manos. Al ber l perreco arrimado a nós, de rabo a çaracotear botemos un arrespincho de bino pal çufino que nien meio sigundo demorou a ser lhambido. Á! tu gustas de pinga, pensemos nós, anton bamos a ber cume te aguantas a buer a la catalana. Un pega no perro de boca abierta i l outro apertaba la bota, quanto más un apertaba más l perro bebie.
Feita la "perrice" alhá l animalico se fui, meio andeble de las patas, más la sue ama adreitos a casa.
Diç que lhatiu toda la nuite, bien podie, cun meia bota de bino no bulho!
A partir daquel die, nun passaba iou ua beç a la puorta de tiu Andreia que l perro nun me lhadrasse a "agradecer" pula borracheira que apanhou.
Çculpa puço.

Buonas tardes
i buonas pingas

19.11.09

A la cumbersa cun l Padre Zé II

L Padre Zé a ditar "Al correr de la bida"


(cuntinuaçón)
FM - Anton a partir dende nunca más falestes na nuossa lhéngua.
PZL purmeiro anho que fui alhá falei pertués quaije até l fin de férias, l sigundo falei solo até metade i aspuis solo falaba mirandés. L padre Manuel Preto falaba mirandés, l padre Anible, que fui miu aluno, falaba mirandés, pus you falaba tamien mirandés, mas por fuora falaba pertués, agora torno a falar pertués.

FM - I quantos anhos stebistes sien ir a Cicuiro?
PZPus stube quatro anhos an Poiares i ende iba siempre no berano. Aspuis fui pa l Storil adonde antrei no nobiciado, un anho, trés anhos de filosofie más dous de teologie, stube seis anhos sien ir a la tierra.

FM - Mas bós screbis … zde quando?
PZScribo. Ampecei cun dezasseis anhos. An dalguns tenie muito que fazer por bias de la paróquia i las aulas de pertués que daba no seminairo i quaije nun screbie, adonde screbi más fui an Cabo Berde porque passei alhá las férias, li Antero de Quental nesse tiempo, a quien botei alguns bersos, poesie i alguns lhibros relegiosos.

FM - I cuontos? Cuontas …
PZTengo alguns cuontos que publiquei na rebista Estela, cousa pouca de que me deixei als poucos, outros tengo por publicar.

FM - I cuontas de la raia, de la nuossa giente na nuossa lhéngua? I subre Cicuiro?
PZScritas nó, sabes, l grande porblema de la lhéngua an Miranda – la lhéngua charra cume le chamában - fúrun las pessonas que habitában na cidade: ls bispos benien de fuora, falában pertués; ls padres eran de fuora, solo falában pertués, ls pursores solo falában pertués, ls comerciantes ampeçórun a falar pertués porque quien mercaba nun éran ls lhabradores mas ls funcionários de l rei que bibien na cidade. Por esso l mirandés nun pegou, mas más tarde, muito más tarde, cheguei a la cuncluson que cume lhénguas latinas l mirandés ye muito más rigular que l pertués.

FM - Cumo assi?
PZAnton!! Mira: you pido, tu pides el pide, nós pedimos bós pedis eilhes píden; an pertués ye, eu peço, tu pedes ele pede … ou este: you sou, tu sós … eu sou, tu és. Muitas cousas an mirandés son muito más asparcidas al lhatin do que no pertués.

FM - Mirai, bós cume tan grande conhecedor de l lhatin, de l pertués i de l mirandés, para quando un lhibrico an mirandés?
PZNunca! Nun fago por bias de la ourtografie. La ourtografie de l mirandés inda nun stá assente i para mi, screbir un erro ourtográfico ye ourroroso, ye cume cometer un pecado mortal. Ua beç spurmentei a screbir ua quadra i por bias de ua dúbida que nun cunsegui tirar deixei-me desso. Afuora l lhibro de l padre Moisés nun bi más nada.

FM - Mas teneis acumpanhado la eiboluçón de la escrita an mirandés. L renacer de la lhéngua.
PZTengo. I solo puodo dezir muito bien porque stá a nacer ua lhéngua nuoba, a renacer ua lhéngua nuoba, nuoba que ben de D. Afonso Anriqueç i para quien passou quaije la bida anteira sien falar na lhéngua que mius pais me dórun, bé-la agora por ende spargida ye ua alegrie eimensa. Nun fura l abade que me daba dous çtones de cada beç que iba a ajudar a missa por arresponder an lhatin i l pursor que dambos a dous falában pertués, al melhor más tiempo i más anraizado l tenerie. Cousa que hoije inda tengo algua deficuldade por bias de star muitos anhos cula lhéngua dobrada pal pertués.

FM - I na buossa maneira de ber l que se debie fazer para que l mirandés cuntinasse bibo?
PZStan a fazer bien porque hai muita giente que scribe i que cultiba l mirandés además de haber aulas de mirandés, mas l porblema ye an casa porque cume nun stamos habituados, a páiginas tantas you falo cun mie armana an pertués i eilha buolbe-se pa la lhéngua que you falo. Anton haberá necidade de falar para que nun passe l mesmo que passou al lhatin.

FM - Hai un poeta que diç que ten dues lhénguas an guerra: pensa nua i fala noutra. Bós tamien pensais an mirandés?
PZNó! Penso an pertués. Buono … a las bezes si, ralas bezes mas … ye cume me dezie tie Malgarida quando you nun falaba pertués: anton hoije torneste a la nuossa fala?

Nota: ua semana aspuis desta antrebista screbiu por sou punho cul títalo "Al correr de la bida" cerca de quarenta páiginas an mirandés, de las quales ua parte saliu tamien no jornal que publicou esta antrebista.

18.11.09

Fai anhos l padre Zé

Cun oitenta i nuobe anhos feitos hoije, talbeç seia l melhor die para ampeçar a publicar ua antrebista sue, salida onte no Jornal Nordeste /Fuolha Mirandesa. Falei cun el hai un cibo pul telemoble, estaba a sestiar porque habie rezado missa pula manhana, cousa que yá ralas bezes fai - ajuda a missa cume fazie no tiempo de l abade. Deiqui, d'hoije nun anho, sr Padre Zé!

"A LA CUMBERSA CUN L

Padre José Francisco Fernandes.

Natural de Cicuiro, nacido a 18 de Nobiembre de 1920, ourdenado cura an 1948, bibe hoije an Mogofores adonde mos recebiu i adonde falou del i de la lhéngua que daprandiu quando era nino. Para todos los cicuiranos ye l Padre Zé, l quinto cicuirano a fazer la quarta classe i l purmeiro a tirar un curso superior. De la sue bida i obra yá eiqui falemos nesta Fuolha Mirandesa i para quien stubir antressado puode ir al Jornal Nordeste de l ampeço de Abril deste anho. Tamien l blogue http://baglina.blogspot.com/ ten benido a publicar muitos poemas de l Padre Zé, an traduçon para mirandés de Alcides Meirinhos. Eiqui queda esta anterbista, que melhor mos puode ajudar a coincer esta personalidade mirandesa.

FM (Fuolha Mirandesa) – Dius mos dé buonos dies Senhor Padre. Mirai, yá alguas bezes falemos de bós mas cume nunca comeniquestes na nuossa lhéngua na purmeira pessona para esta Fuolha Mirandesa, gustarie de bos scuitar, assi cume a modos d’ua cumbersa que todo mundo oube. Por esso, ampeçarie por bos preguntar cun que eidade salistes de Cicuiro.

PZ (Padre Zé) – Tenie por ende doze anos, fui la eidade cun que fiç la quarta classe. Antrei na scuola cun siete ou uito, mas adepuis cume you era de Cicuiro i ls outros éran de Custantin eilhes matriculórun-se purmeiro, por esso quedei un anho atrasiado. Era l pursor Becharoco, batie cume un bruto, era de Aldeia Nuoba, buono pursor mas batie muito. Un die batiu-me cul punho que anté quedei cula cara anchada.
I miu pai biu-me assi i preguntou-me: fuste tu que andebiste als niales i caíste. Nó, fui l pursor. Era nas reduçones, querie que you fazisse las reduçones porque era l que andaba más adelantrado. Mas a declamar stória era cume esse storiador que dá na telbison. Aspuis parece que fui pa ls Açores, gente simpática.

FM - Era este l pursor que falais? (amostrei-le un retrato antigo cun garotos de scuola i l pursor no meio)
PZSerie …

FM - I nun bos dá fé de tirar este retrato?

PZSi.

FM - I qual sodes bós?

PZNun sei (mirando l retrato), este ye Zé Bríxemo … you … nun sei. Stou alhá mas nun me conheço. A mi parece-me que staba más arriba … se calhar sou aquel. Sabes, l retratista cobraba un alqueire de batatas ou cinco malréis mas miu pai denheiro nun tenie i tamien nun quijo dar tanta quemida por un papel que nun tenie sítio para colgar…
Pus mira que ye anteressante l retrato este i quaije solo stan cicuiranos … a mi parece-me que los de Custantin habien ido a almorçar.


FM - I l pursor deixaba falar l mirandés? Cume ye que era cula nuossa fala neste tiempo?

PZNa scuola falábamos l pertués mas fuora deilha nada, solo mirandés. Até l die que fui pa l seminairo adonde nos purmeiros tiempos que alhá stube, an Poiares de la Régua, fazien caçuada. I quando tornei a Cicuiro pula purmeira beç, lhougo na manhana seguinte fui a rezar missa cul abade, pariente de l que ye más coincido i tamien cul mesmo nome, Francisco Manuel Alves que me dixo para nun falar más esta “língua” que ye ua “língua” de farrapos, ua lhéngua atrasiada, cousa que fiç por rebréncia a aquel home respeitado. Mas tenie ua cousa buona: se un rapaç tenie tento pa la letra el fazie cun que fura a studar ou anton un pedido de antrada na guarda era lhougo atendido. Tenie muito poder l abade naquel tiempo!
Ua beç, un armano de l Padre Manuel Preto, de San Martino, fui a fazer uas partilhas i alhá se anraibou cula outra parte i antre más i menos, pimba, dou-le ua stadulhada na cabeça. Desso se morriu l outro. Fugido para Spanha, no tiempo an que Manuel Preto staba alhá a studar teologie, l abade antrecediu na justícia, cousa que bastou para que l acusado de la muorte quedasse lhibre.
Outra beç, por buolta de l anho de 1955 quando fui a la boda de miu armano an Sendin, alhá pa la raia de Infainç la guarda matou un studante pulas cuostas quando nun oubedeciu a las ordes de birar para trás. Anton l Abade fizo uns pedidos i aquilho nun dou an quaije nada, l que dou l tiro saliu deilhi, mas afuora esso todo quedou cume dantes. Éran tiempos mui ruins. Solo para ber la fuorça que l abade tenie. Dende quaije la oubrigatoriedade de falar pertués."


(ten cuntinuaçón)

9.11.09

Marcos


"la çquila, buona que mala, a ls uito dies eiguala".
Eran las palabras que oubie quando las tejeiras ou la máquina tipo torqués arrancaba l pelo an béç de l cortar.
.
Buonas tardes
i çquilas al sol


Penheirinas ... talbeç nas Garbancinas


Son fuontes las penheirinas
Cul merujeiro na sierra
Agárran l’auga a las nubres
Çcarrégan-la na tierra.

La fuonte nas penheirinas
Gota a gota bai botando
Pon tempeiro nas raízes
Ye l ourbalho caminando.

Penheirinas que son fuontes
Fazen de l puolo un terron
Refréscan la sementica
Que há-de botar un melhón.

Penheirinas de palabras
Agarrai estes sonidos.
Falai neilhes, cantai alto
I bereis cume estan bibos.

Penheirinas son las gorjas
Bien abiertas a boziar
Na lhéngua cun que nacimos.
Son palabras a manar.

testo roubado eiqui

30.10.09

La bandeira


[Testo salido na Fuolha Mirandesa desta sumana i andrento de la campanha pula fala, FALAR YE BIBIR]

Habiemos passado la nuite an Santiago, assi cume a modos de ua fujida nos amprecípios de Agosto i aspuis dua última mirada a la Praça de l Obradoiro alhá botemos caras a Finisterra: esse sítio mítico a la borda de un mar sien fin, tierra de lhumes adonde árden cousas einutles que cada pelegrino chiçca na hora dun nuobo reampeço.
Cuonta deiqui, lhona deilhi, iba tentando çtrair i amboubar la garotada más anteressada an barquechos de “regalo” de ls tendeiros arresquinados naquel cachico de tierra antre dous arribanços do que an bejitar menumientos ou rincones difrentes. You bien fuorça fazie para quedar más un die ou dous por aqueilhes lhugares, mas un puxaba las calças, l outro resmungaba antre dientes i ls dous parecien dues bacas a quien le acabórun de zmamar ls bitelos. Se le pudisse poner ua tabra nas bentas para nun acháren l camino …
Bien me amolei, you a pensar que le iba a fazer ua surpresa tan buona quando salimos de biaije i nun parórun de rezingar quaije todo l tiempo que andubírun fuora de Pertual. Pus se nun querien tierras galhegas eirien para Cicuiro trés sumanas an beç de dues cume staba treminado. “Anda que bos ides a fartar, bos l digo you”, pensares mius …
... Rodaba sien priessa l carro strada abaixo, quando al chegar al pie de la paraige de la carreira oubo ua boç atrás de mi meio a modos de un grito de lhibardade: “Chegámos ao paraíso!!” Bá! l Paraíso? Quedei cume l carambelo: anton nun ye que un garoto de quinze anhos habie çcubierto l Paraíso no sítio adonde you naci i adonde bibi la maior parte de la mocidade? I diç l outro más pequeinho: “vai ser este ano que aprendo uas palabricas an mirandés”.
Anton para eilhes l Paraíso quedaba adonde se fala mirandés: nos lhugares al redor dua cidade a que nun chamában Paraíso porque oubien “hablar en rebajas”, oubien saludos cun roçar de beiços i un “como vai você cridaaa?”, ou oubien “ça ba? Oh! didon, tu é tré bien desde la dernier fuá que te bi”.
Dei cumigo a matutar cume serie esse cielo que todos búscan sien l sítio que le dá l nome: Miranda de l Douro.Serie possible? Pus tanto era possible que essa própia cidade pouco ou quaije nada fazie para que aquel Praino único, antre l Douro, l Angueira i las tierras de Mogadouro, nun fusse ancolhendo até puntos de poder passar a ser un Purgatório anfernizado.
Als poucos, Miranda fui dando agarimo a las personas salidas de ls lhugares al redor, fui-las aculturando por antermédio de ls curas, de ls porsores, de ls guardas, de las personas de las Repartiçones, de la Cámara i de todos aqueilhes que siempre bírun la lhéngua mirandesa cume ua maneira anferior de quemunicar. I son essas personas que alhá no fondo de la rezon nun quieren perder l sou Paraíso: l mirandés! I se l perdíren? Quédan más probes. I se Miranda l perde? Perde la sue eidentidade, l sou ser, la sue rezon de eisistir, perde l sou maior bien, deixa rumper, filo por filo, la sue maior bandeira i seinha de çtinçon an Pertual i no Mundo: falar l mirandés!
Que proua puode tener ua pessona de l cunceilho de Miranda, biba eilha nua aldé, na cidade ou nua bila, quando nun fala mirandés? Ningua, digo iou, mas se cada un falar quatro “palabricas “ por die, al fin de l anho fala más de mil i cuatrocientas i nun son necessairas tantas para abraçar ua bandeira.

Alcides Meirinhos

28.10.09

La nuite i la telbisón

Terminada la sementeira i las bendimas quedaba l trabalho i l gusto de fazer l’augardiente, última jeira ampeçada culas augas de Márcio a birar terrones de adiles i restrolhos cun juntas de bacas puxando arados de palo nun “ei marela! anda cá parrada … bira!!” para más un suco de relba. Agora estában quatro meses de quaije çcanso, ora amanhando ua augueira, lhebantando un portielho ou fazendo más uns metros de parede no tapado guardado por fincones e arame de picos.
Dies a ancurtiar, nuites de rambóia, remeias e cántaros de bino de las antradas – ritual de einiciaçón de que se perdírun las ouriges mas chabe necessaira para antrar na “mocidade”. Passado l purmeiro de Nobiembre soltaba-se la fuolha a la castanha i era ber un bando de garotos de escuola, armados de sembradores de çarapelheira ou cun cestas de las cereijas que tiu Perrera habie feito no eimbierno passado, adreitos a la Cruç, a las Rodriguijas ou a Ourrieta Queimada an busca de un magosto para jogar a la remunhana durante l serano. Ampeçaban las nuites de lhumes, cuontas, tradiçones, falas i suonhos: telbisones doutro tiempo.

Buonas nuites
i lhumes fuortes.

25.10.09

Auga branda - Fuonte de lhuç

Auga brada an piedra dura
- Diç l antigo refran –
Tanto dá até que fura.

Esto era antigamiente:
Mas hoije la auga ye branda
Ye outra, ye difrente.

Auga branda an piedra dura
Tanto dá i tanto dou
Anté que la piedra chiçcou.

Ye bé-la a turbinar
La auga branda an xordos roncos
Pa la tierra alumiar.

Auga branda tamien risca:
De las augas desta barraige
Hoije relhumbra la chiçpa,

Relhuziente cume la berdade
I l fulgor de la antelgéncia:
Ten l nome de eiletrecidade.

Eiqui ajuntan-se las puntas:
La auga branda i la piedra dura,
Mas sien eilha nun bibimos
I la tierra serie escura.

No oureginal : Água mole - Fonte de luz

Água mole em pedra dura
- Diz o antigo refrão –
Tanto dá até que fura.

Isto era antigamente:
Porém hoje a água é mole
É outra, é diferente.

Água mole em pedra dura
Tanto dá e tanto deu
Até que a pedra acendeu.

É ve-la a turbinar
A água mole em surdos roncos
Para a terra iluminar.

Água mole também risca:
Das águas desta barragem
Hoje cintila a faísca,

Luzente como a verdade
E o fulgor da inteligência:
Tem o nome de electricidade.

Aqui juntam-se os extremos:
A água mole e pedra dura,
Mas sem ela não vivemos
E a terra seria escura.


PADRE ZÉ - 1959 -
por oucasión de la einouguraçón de la barraige de Picuote

11.10.09

LA BIDA

La bida ye dura! Tripas de madrasta
Que atira al mar de l mundo i sien amor
Tanta giente anfeliç que l mar arrastra,
An carreira, a las bordas an barreira de l delor.

Iou quije perguntá-le porque afasta
L sou mirar maternal al sufridor,
Eilha sien piedade solo esbordiasca
L dzardado, l aflito, l pecador.

Mas la bida respundiu cun ar de grácia:
Miu filho, lembra-te la bida ye assi:
De la peinha biba nace la fuonte pura

I l lhacrimal stranforma an piedra dura,
Cantando, na risica dun jardin!
Se la bida ye assi, que quieres que te fága?

- no oureginal - A VIDA

A vida é dura! Entranhas de madrasta
Que atira ao mar do mundo e sem amor
Tanta gente infeliz que o mar arrasta,
Em fila, às margens íngremes da dor.

Eu quis-lhe perguntar porque afasta
Seu olhar maternal ao sofredor,
Ela sem piedade só vergasta
O deserdado, o aflito, o pecador.

Mas a vida retorquiu com ar de graça:
Meu filho, lembra-te a vida é assim:
Da rocha viva nasce a fonte pura

E o lacrimal transforma em pedra dura,
Cantando, no sorriso dum jardim!
Se a vida é assim, que queres que te faça?


Padre Zé - 1958

28.9.09

Manolacas



Morában no Bairro de la Pataca mesmo an frente a la loija adonde guardábamos ls burros, bien a la punta de baixo de l camino de las binhas. Ua prieça de casa feita de lajas armanas a las que inda tápan la augueira de la fuonte que nace nas piçarras an frente, sítio soalheiro an fins de tarde de Outonho no outonho de la bida daquel santo home a quien nunca se l oubiu ua mala fala.
.
Buonas tardes
i soalheiros de cumbersa

27.9.09

Eleiçones 2009


Buonas nuites
i buona suorte

19.9.09

Casica de la Buolta


Queda a meio camino antre l lhugar i la feira de l Naso, sítio de boieiros an dies de Eimbierno, resguardo de borrascadas i cenceinhos calcidos an lhumes de jóldia antre cumbersas i chamardielhas de ramalhos a restralhar.
.
Buonas nuites
i muita joldeirice!

13.9.09

Quando la lhuna pide siléncio ...


... mana más la Baglina cul delor dun pobo anteiro.
.................................................

4.8.09

Ancuontro de Bloguers de l Praino 2009


Buonas tardes

Agora meio bagamundo por nun tener segada nien trilha, cerrados que segar ou freznos que zgalhar i l trabalho cun papeles queda meio aparbonado durante quaije todo este més , ye tiempo de mos botar a las cuontas de las fiestas no rincón de Atta, de las caminadas no Carril Mourisco i de zanferrujar la buona i la mala lhéngua.

Andube a botar cuontas a las cabeças que se apreponirun a estar no die 22 na Trindade i pulas mies cuontas anda al redor de 30. Cume la camarada de segadores mínima era de 15, yá puode benir segada que la estalha bai a salir delei.

Hoije solo bos quiero dezir que cume alhá pa la raia las nuobas tecnologies sien filo nun rigulan, qualquiera candidato más a segador, ou algua ajuda que quergades botar, debereis falar para este númaro 965218993.


I más ua beç eiqui queda tamien l cumbite a giente de fuora de l Praino que mos querga fazer cumpanha. Bonda dezir algo cun tiempo para que puodamos lhebar ua fogaça a la farta.

Benga fome i lhéngua afilada!

30.7.09

Segada no Brosque


Guapa estalha que nun deixa saudades.
Mas tén todo: segador, atador, gabielhas, manolhos, trigal, restrolho, fouce i garanheiras. L'atador ye que está birado al robés para quedar pimpón no retrato.
I las touças de l Brosque estaban bien más ratunhadas!
.
Buonoas tardes
i buona séstia.

12.7.09

Manjores




Falaba-me Manuel Manjor naqueilha tarde: sabes? quando se fizo la canalizaçón de l'auga de los Lhameirones pal lhugar - an finales de los anhos 50 de l passado séclo, se la mimória nun me atraiçona - inda iou ganhei uas buonas jeiras cula junta de bacas i la charrua para fazer l barranco de los canhos que traien l'auga pal lhugar. Iou i las bacas ganhábamos dues jeiras por die, tamien faziemos trabalho de meia dúzia a escabar, anquanto que los outros ganhában ua.
Tamien dou fé deste desabafo: los uolmos? yá bien tiempo que se habien de haber secado, iou escusaba bien de los tener cuincido.
Antón bieno-me a la eideia un uolmo no Canhico, a la borda d'ua peinha, causador de trés uorfanos menores ...
Hai feridas que nunca curan mesmo cuando nun amalingran.
.
Buonas nuites
i buona suorte

7.7.09

Sant'Amaro - zde la Rodeira l Escobal


Estaba assi no Sábado que passou. Deiqui a un més diç que ye la fiesta:)
.
Buonas tardes
i buonas modas

25.6.09

Bai

Bai adonde te chama l coraçón,
bai adonde te está la felcidade
i adonde nace la fuonte de la berdade,
inda que solo aches desilusión.

Anda de modo que nun baias an balde,
cuidado, nun te ancandile la lhibardade,
essa estreilha de purmeira culidade,
que precura çfazer la escuridón,

estreilha essa que guia l camineiro!
Mas sou fulgor puode ser traiçoneiro
para aqueilhes que ponen nel l coraçón
todo anteiro, sien antendimiento.

Pára un cibico, piensa un momento:

Lhibardade ye amor nó eilusión.

(no oureginal)
Vai
Vai aonde te chama o coração,
vai aonde te está a felicidade
e onde nasce a fonte da verdade,
inda que encontres só desilusão.

Anda de modo que não vás em vão,
cuidado, não te ofusque a liberdade,
essa estrela de prima qualidade,
que busca dissipar a escuridão,

estrela essa que guia o caminheiro!
Mas seu fulgor pode ser traiçoeiro
àqueles que põem nele o coração
todo inteirinho, sem discernimento.

Pára um instante, reflecte um momento:
Liberdade é amor, não ilusão.

Padre Zé
Mogofores, Agosto de 2007

15.6.09

Poemas bígamos

1.
Camboios na mesma lhinha
pantasmas na mesma cuonta
dues bicas na mesma fuonte
un solo riu que son dous.
Partitura a duas mãos
solta do mesmo piano
encosta que se define
no subir e no descer.

2.
Nascem-me aos pares as palavras
sossega-me tê-las sempre em duplicado
mas hai palabras nones
afeito a todo an doble
queda-me ende l mundo a meio.


Hai palabras ambejosas
mal sal ua
ben la outra

tradução simultânea
que ninguém me paga.

Hai palabras que s’arrepélan:
se digo pila
não é pia de água benta;
se digo pieça
há logo peças que rangem.

3. o meu computador não sabe mirandês. É o meu pior aluno. Como não conhece as minhas palavras mirandesas sublinha-as a vermelho e a verde. Podie ousar outras quelores i zenhar ua cinta de la bielha. Mas nó: adbirte-se a meter-me grima un miedo antigo.

I dou cula mie pursora purmaira na pantalha
de régua a cobrar las faltas de l ditado
de barielha a spreitar l mirandés de l recreio
que se scapa puls uocos antre dues falas
i chube cume azeite nun mar d’auga
.

4.
Sinto os passos do poema: não
sei a língua em que caminha.
Suspensas na mão
ficam ansiosas as palavras:
gesto que busca o ser.
Ne l silenço
nun cuorren las palabras
sona solo l sou ceçar;
palabras an ser
spritos puros.

Francisco Niebro - Pul alrobés de ls calhos / Por dentro dos calos

9.6.09

88 anhos de lhucideç

ANDENHEIRADOS

Agiotas andenheirados
Que andan caminos trocados
Cun que agraban sous pecados,
Pensan nun haber peligro
De bibir nua prisión,
Porque ténen adbogados
Mui espiertos, sofsticados,
I un amigo berdadeiro
Buono serbidor, l Don Denheiro.

Bisto que l tiempo todo cura,
Tamien squece la usura.
Ponendo la capa de la brandura,
La juíza dá la senténcia :
Nada desso quedou probado.

No talho, l réu queda eilibado.
Á que alegrie ancuntenida.
Sal pula puorta delantreira
Puls amigos oubacionado,
Será beisado i abraçado
Cantando bitória i glória.
Demostraçón mui castiça.
Mas hai quien diga an boç submissa:
Neste Pertual abançado
Adonde se escundiu la justícia?

no oureginal
ENDINHEIRADOS

Agiotas endinheirados
Que andam caminhos errados
Com que agravam seus pecados,
Presumem não haver perigo
De habitar um chilindró,
Porque têm advogados
Muitos espertos, sofisticados,
E um amigo verdadeiro
Bom servidor, o Dom Dinheiro.

Visto que o tempo tudo cura,
Também esquece a usura.
Pondo a beca da brandura,
A juíza dá a sentença:
Nada disso ficou provado.

No banco, o réu fica ilibado.
Oh que alegria incontida.
Sai pela porta dianteira
Pelos amigos ovacionado,
Será beijado e abraçado
Cantando glória e vitória.
Demonstração muito castiça.
Mas há quem diga em voz submissa:
Neste Portugal avançado
Aonde se escondeu a justiça?

Mogofores, 10-04-2009

José F. Fernandes – Padre Zé

3.6.09

Manulielho

Tenie tiu Zé Francisco ua receitica pa ls lhados de Bal d’Aigla: ua cortina, dues tierras i algun cerrado arrendados, que arar i pacer nun podie por bias de quedar mui loinge para fabricar i tratar: quatro léguas nun era cume chegar a las fraldas de l Sierro i propiedades que nun miran l amo al menos ua béç no anho perden marcaciones e crian sbarrulhados cada hora i quando.
Cume nun era home de meias cuontas resolbiu bender no termo de las arribas para aspuis cun esse denheiro mercar outro tanto ou más no termo de Cicuiro, afinal siempre quedaba a la mano i falaba-se que alguas de las propiedades que habien sido tiradas a la Eigreija no tiempo de la reboluçón serien puostas a benda an Bregáncia por hasta pública.
Pulas biesperas de l leilón alhá se bota a camino miu Zé Francisco, bien ampimponado i de carteira anchada, a camino de Bregáncia. Anté parecie un bezerreiro de la feira de l Naso siempre pronto a negociar la cria.
Serie por ende meia manhana, no tiempo de la poda, quando a las eiras de Sant’Amaro i antes de buolber adreitos a Fuonte Frie, se dá de caras cun Tiu Manulielho acabado de salir de la binha inda a meio podar.
- Antón adonde ides tán pimpón tiu Zé? Nun me digais que hoije és la feira de Bumioso? Atirou nua fala meio espanholada por bias de las sues ouriges cantábricas.
I antre ua risica meio escundida, meio ambergonhada alhá le cuntou que iba a Bregáncia para mercar algun prédio desses que habien tirado de las abadias i cousas assi. I iban a botar buonos lotes a benda, nó que los curas tienien posse de l melhor que habie no lhugar i no termo!
- Mira, anté me dçfize de la receita de la tie an Bal d’Aigla para poder ambriar agora eiqui. Bieno mesmo a la moda esta cuonta de tirar las tierras a los curas e botá-las a leilón.
- Mas mirai que esse leilón yá fui la semana passada. Me lo dezírun trasdonte dous guardas que passorun a cabalho an Alcança Lhobos benidos de lhados de Bal de Frades. Agora tenerán que fazer outro porque d’acá naide fui. Mas bós non quedeis an cuidaos que assi que yo sepa bos lo direi.
Cumbersando, alhá buolben los dous Canhada abaixo, cada cual adreitos a sue casa que iban sendo horas de botar la cria pa los pástios.
Inda nun habie passado un més desta cumbersa, cual nun ye la admiraçón de tiu Zé Francisco al ber un rapazote de Manulielho c’ua junta de bacas a arar la huorta de la Fuonte, eilhi bien no meio de l lhugar, huorta essa que habie pertencido a la receita por cuonta de la abadia.
- Á Felipe, antón quien bos arrendou la huorta?
- Naide, tiu Zé! Fui miu pai que la mercou an Bregáncia nun pregón.
Bien ampecadado quedou por haber falado a las buonas cun Manulielho ... se fura hoije, á spanhol framalheiro que nun me lhebabas a las buonas!
Inda se cunta, an cumbersas de outros tiempos, l falsete de Tiu Manulielho, un spanhol fugido de la justícia por haber muorto un home quando era guarda de la floresta nas bordas de l mar Cantábrico, aspuis criado de serbir que se namorou pula filha de l amo i eilha por el i más tarde home de fazienda que inda hoije ye, na sue maior parte, de los herdeiros: Cortina de las Eiras (tamien chamada cortina de l Forno de la Teilha al pie d’adonde hoije ye la cabine de la lhuç); Huorta de la Fuonte; Binha de Sant’Amaro (propiedade toda amparedada antre las eiras i l Carrascal); meio Picón de Baldeglina … tierras mercadas por dous reales nun leilón an que solo apareciu un antressado: Manulielho!

Buonas nuites
i buonos negócios

15.5.09

Senaras nas cortinas de Bal de Palombino

Buonas tardes
i buona suorte

10.5.09

Las bistas de la Abadia

Campanairo


Estas eran las bistas que l Abade de Baçal tenie siempre que se assomaba a la puorta adreitos a las scaleiras. Al loinge, quaije na lhinha de l'ourizonte queda Malhadas i a la dreita l Sierro. Choupos nos Lhinares i palombares no Camino de las Binhas.
Deiqui, al melhor tamien Manolacas s'assomou adreitos al Canadá. Cun estas bistas ...
Assi staba onte Cicuiro, meio d'atalaia a guardar l Praino.
.
Buonas tardes
i buonas bistas

3.5.09

Lazaretes



Tiu Lázaro fui l único filho de Tiu Emílio que quedou cul nome de sou pai: .
Armano de Tiu Agusto Xanola, de Tiu Cagón i de tie Hermínia (la mulhier de tiu Cristo), home de poucas falas, moraba na casa al pie de la scuola i para nós, garotada de antón, era coincido por Tiu Lazarete i por Tiu Rá.
La gingeira de l sou quintal era ua perdiçón quando yá nun habie cereijas! L pai truxo las cereijas brancas i las purmeiras ginjas que bi fui nessa árbol que inda deberá dar brumelhidones agres.
.
Buonas nuites
i buonas ginjas.

28.4.09

Las Maias ...

Cuonta dita por Demingos Primo an Abril de 2008

Buonos dies

i castanhas sanas

18.4.09

A Antero de Quental

Nacido a 18 de Abril de 1842 ...
A Antero de Quental

Antero de Quental, li tous sonetos
Sculturales, dramáticos, belos
I frius, cume státua de los carambelos
A la borda de un fantasma d’uolhos quietos.

Relhi, lhambarisquei esses poemetos
Cungelados na forma de los anilhos
Que nunca más l sol cunsigue derreti-los …
Tan lhimpos, tan frius tan secretos.

Tornei a ler, probei demoradamente
I sabiran-me a cinza de heicatombe
De la lharga projeçón de la tue mente:

Nun admira yá que l mundo asselombre
De la aigla real la ambergadura ingente:
Nun me admira ber que un astro tombe.

no oureginal (A Antero de Quental)

Antero de Quental, li teus sonetos
Esculturais, dramáticos, belos
E frios, como a estátua dos gelos
À beira de um fantasma de olhos quietos.

Reli, saboreei esses poemetos
Congelados na forma dos anelos
Que jamais o sol consegue derretê-los …
Tão límpidos, tão frios tão secretos.

Tornei a ler, provei morosamente
E souberam-me a cinza de hecatombe
Da vasta projecção da tua mente:

Não admira já que a terra ensombre
Da águia real a envergadura ingente:
Não me admira ver que um astro tombe.

(Padre Zé) José F. Fernandes, 1958

15.4.09

La Árbol


La árbol

Ua árbol aprumada
An bien alta serranie,
Aqueilha que se agiganta
Dzdenhando la airaçada
- Abiba la mie sperança.
De alma purificada
Pul aire que arremete
De pies an bico no suolo:
Beio no alto un ramalhete
Cume an suonhos de criança.
Será poribido sonhar?
Adón tamien sonhou
Que perdiu ua costielha:
Quando al fin acordou,
Que serie feito deilha?
L Senhor la apresintou,
Feita noiba de la aliança.
Proba más que suberciente
I haberá quien l dezminte?
Dun suonho nace la sperança.

no oureginal (A árvore)

Uma árvore aprumada
Em bem alta serrania,
Aquela que se agiganta
Desdenhando a ventania
- Aviva a minha esperança.
De alma purificada
Pelo vento que arremete
De pés em bico no solo:
Vejo no alto um ramalhete
Como em sonhos de criança.
Será proibido sonhar?
Adão também sonhou
Que perdera uma costela:
Quando ao fim acordou,
Que seria feito dela?
O Senhor lha apresentou,
Feita noiva da aliança.
Prova mais que suficiente
E haverá quem o desmente?
Dum sonho nasce a esperança.

Mogofores, Março de 2008
José F. Fernandes

6.4.09

Guelhermes



Buonas nuites
i buona suorte

1.4.09

Ancuontro cul Padre Zé


Aspuis de passar la puonte por anriba de l camboio ambiquei a la dreita por ua ruga streitica de casas baixas i antrando meio a miedo, assi cumo quien se abintura por caminos scusos, deixando l carro rodar al sabor de la pequeinha cuosta a dreitos al meio de l lhugar.Era sábado i naqueilha manhana d’eimbierno cun sol d’arreganha dientes a pormeter auga, nien altemobles nien giente se assomában para poder amostrar l camino anté l seminairo, mas nua rebuolta lharga alhá çcubri ua alma que possiblemente me andicasse qual l camino cierto para achar l Padre Zé (de sou nome cumpleto José Francisco Fernandes) eilhi no seminairo de Mogofores.
Parei l carro, sali i quando me purparaba para preguntar se staba a ir bien ou nó, quedei parado a mirar melhor aquel home de cabeça abaixada i passos cúrtios, de manos meio cruzadas na cinta, uas chinelas de quarto nos pies, ua jiqueta azul i un guarda chuba çpindurado de l braço esquierdo.
- Dius mos dé buonos dies!, botei you nun saludo de risa scundida mal abri la boca. Aquel home, yá anciano, alhebantou la cabeça, mirou para mi meio atelundrado i arrespundiu:
- Buonos dies … mos dé Dius … e o senhor quem é? zafiou el cun aqueilhes uolhos que más parecien lampiones a mirar para mi para çcubrir quien le falaba naqueilha lhéngua que inda guardaba nua squina de l sou ser.
- You sou de Cicuiro … mirai a ber se me conheceis, bá … eilhi no meio de l lhugar … Quedou a manginar quien poderie ser, mirou ua beç i aspuis outra … agarrou la mie mano nua mãozada sentida …
- Tu és Felipe … Da Esperança!
- Esse todo era miu abó …
Stacionei l carro nua borda de l camino i seguimos dambos a dous la caminada a pie para mercar uns remédios na framácia quaije a la salida de l lhugar. Eilhi achei aquel home, paç an persona, nacido an Cicuiro na era de 1920:
Antrou no seminairo salesiano de Poiares de la Régua an 1933, adonde estubo até 1937; professou na cungregaçon salesiana an 1938 i fui ourdenado saçardote an 1948; trabalhou cumo porsor nas Oufecinas de San Jesé (Lisboua), an Poiares de la Régua i no Liceu de S. Bicente (Cabo Berde); fui diretor i aspuis admenistrador de las Eidiçones Salesianas (Porto); de 1984 a 2004 antegrou la eiquipa formadora de l Nobiciado Salesiano (Vilarinho – Vila do Conde); hoije está an Mogofores, la sue purmeira paróquia zde 1953 a 1957.
Ten, l Padre Zé, dieç lhibros eiditados i de antre eilhes apunto solo dous: “O rosário meditado” cun 2 eidiçones i 10 000 eisemplares i “Terra minha mãe”, un poemário de 2002 adonde l outor ajunta la sue poesia spalhada zde la mocidade. Eiqui, para alhá de los poemas amostra tamien la faceta de pedagogo que outeliza la palabra para amostrar l modo cume bei l mundo, sendo dedicado «À memória dos meus Pais e aos Antigos Alunos».
Aspuis, yá no antigo seminairo, agora coléigio, falemos de todo un pouco: de Cicuiro, de mius abós, de sous pais, de mius tius, de tiu Rá i de las cereijeiras brancas, de los sous lhibros, de tantos i tan guapos bersos que ampeçou a screbir an 1936, quando era un moço de 16 anhos.

(testo salido ne l Jornal Nordeste na sue eudiçón de 31 de Márcio)

Buonas nuites
i buonas lheituras

Dius Rá i cereijas cicuiranas


L filho de l Sol chegaba manhana cedo al parque. Tiraba la camisa i, de znudo de la cintura parriba, uolhos meicerrados, bolbie-se pa l Sol i ponie-se a tocar l sou bombo. Aspuis, siempre de rostro oupido al anfenito, nua lhiturgie demorada, belhiçcaba an transe, por ua lharga hora, al redror de l bielho brimaleiro que stendie los braços delgados pa la lhagona.
Era un home de meia eidade, seco de chichas, rostro relhamposo, pelos quelor de café i sedosos a caíren porriba de los ombros morenos.
- Esso ye algua cerimónia relegiosa? – preguntei-le cierto die.
- Ye berdade - cunfessou, cun simprecidade.- Ye l beilar de l Sol. Bengo eiqui todas las manhanas a dá-le quemido al Sol que stá andrento de mi. Sou un filho de l Sol.
Aquilho dezido assi, cun tanta simprecidade, ampressionaba.
- Çcubri esta fé nua biaige que fize al Peru - cunfessou-me lhougo apuis, anquanto l bombo rufaba suablemente para modelar las palabras. - Aspuis, antressei-me i ambestiguei l assunto. Çcubri que l Dius Sol ye adorado zde ls tiempos más antigos. Los eigícios chamában-le Rá. Los griegos, Hélio. Los persas i los romanos, Mitra. Los incas conhécen-lo por Inti. Ye, talbeç, la más antiga relegion de l mundo.
- Nua aldé pertuesa, habie un home chamado tiu Rá. - Dezido esto, tan a çperpósito, quedei meio ambasbacado. - Çculpa se te anterrumpi cun esta tunteira.
An beç de l cuntrariar, las mies palabras aguçórun l antresse de l filho de l Sol.
- Cuntina, cuntina, l que acabas de dezir ye mui antressante.
Animado puls sous uolhos cada beç más abiertos, cuntei-le, cun remissacos poéticos, la marabilhosa stória de l tiu Rá de Cicuiro i de las sues cereijas brancas.
L bombo rufaba más fuorte. L rostro anxuito de l filho de l Sol relhuzie ambaixo de la lhuç solar.
- Armano, l tou tiu Rá fui, stou cierto , ua ancarnaçon de l Dius Rá. I las cereijas brancas, de que me falas, son l disco solar que le anfeita la cabeça an todas las graburas que chegórun anté nós. Dében ser los granos de lhuç i einergie de que se aliméntan los Diuses. Nun tengo tiempo a perder, bou a salir eimediatamente para esse lhugar sagrado que me rebeleste. Oubrigado armano, agora cumprendo, sós l ambiado de los cielos que me bieno a abrir las puortas de l coincimiento i a rebelar l segredo de la bida.
I, nun repente, botou-se al suolo delantre de mi, cula deboçon dun crente que, finalmente, ancuntrou l camino de la salbaçon.

30.3.09

L ouxeio

...
- Cula mocidade de Samartino, inda no miu tiempo de garoto, por causa d’ua raposa que matórun nun ouxeio alhá pa la Bicha, los d’acá i los de Samartino ... tiu Perrera dezie que tenie sido él i Çarafin Cebolho que habie sido él tamien.
- Tiu Çarafin era d’acá!
- Sí, mas cume se habie casado an Samartino … i antón armórun aí un trinta i un que iou pensei que se matában uns a los outros. Aspuis siempre habie aqueilhes más estremistas que dezien:
“l die de Santo Antonho bamos a Cicuiro que rebiramos todo de riba para baixo”. Eiqui siempre tebirun la mania de fazer desacatos de perrice …
- Mas ua béç un, nun quedou agarrado puls pies, spindurado de cabeça abaixo na puonte de tie Rita? Cunta-se que fui Çarafin Bara que lo amansiou …
- Essa nun la sei … eilhes solo se armában de fuortes quando andában an bando … muitas nun las cuntarien ... mas oubie dezir a miu pai, inda iou garoto, que stában ouganizados: Tiu Guelherme, Tiu Bicente i outros … quando era nessa fiesta de Santo Antonho. Sabes que dantes solo habie un camino para antrar no lhugar benindo de la Canhada, que era pula Pataca, i no sou polheiro un galho canta cume quier. Poderien ser poucos mas stában ourganizados. Inda era cun essas spingardas de cargar pula boca: uns nas cortinas outros nas buracas de las lojas i palheiros, outros nos telhados, l que antrasse a caçoar lhebaba chumbo. Chumbában-los eilhi. I mira que nestes bárrios habie muita giente: Tiu Caldeireiro, miu suogro, … daquel lhado de l Palumbar, tiu Marcos, miu pai – era pacífico mas nessas cousas que nun fazissen caçoada – Tiu Manjor …
- Tiu Manjor, que era de Samartinho …
- I era l regidor. Fui l que salbou de haber muortes. Cume achou que estaba todo mui calhado, ou por algun abiso, nun sei … para que fusse a negociar, talbéç. Pegou antón, quando yá se houbien las bozes, l bombo i caixa, i furan para Sant’Amaro el i Calachas, tamien de Samartino, a tener cula mocidade de Samartino. Assi que chegórun alhá, aquilho mudou de figura i quedou todo an silénço. Nun se sabe l que l dixo, deben tener abisado que antrar si antrarien mas salir nun salien todos. Tanto assi ye que l bombo i la caixa quedórun calhadicos l resto de la nuite, la mocidade arrimou-se a l lhume, cantórun i dançórun uas dulçainas i todo quedou remortigado.

Mas mira tu, ua reles çamarra de raposa i la teimosia de dous l que poderie tener oucasionado!


Buonos dies
i ouxeios a la intoleráncia

26.3.09

Froles sintéticas

Passo todas las manhanas por ua rue guardada an d'ambos lhados por çreijeiras antressacadas cun magnólias. Estas, las purmeiras o botar frol, trazen la primabera, mas quando la frol cai i las fuolhas ponen todo a berdegar, arrebentan las çreijeiras: manhuços de branco a rir-se pa las pessonas que nien tiempo tenen de ouserbar la albura nacida da tanto botón. Hai uns dies que están assi a sorber l sol çpejado a manadas nestes purmeiros dies de primabera. Todas las manhanas, na mesma esquina de l passeio alhá está aquel floreiro branco a relhuzir n'ua brancura que nun aparenta berdadeira nien feliç.
Parei antón, arrimei-me al tuoro i mirei cada galho de punta a punta. Parecie gelado, quieto, cume se houbira salido de la fábrica de las froles de plástico: nien ua abeilha al redor para amprenhar esta frol ... i aqueilha ... i la outra ... Nada! l zonido de anxame eran motores d'altemobles i camenhones. Eilhi tan solo un floreiro alto a anfitar l camino de la giente apressiada.

Buonas tardes
i buona suorte

24.3.09

Diamante de la gana

L Diamante de la gana

Dou-me Dius, n’aprecípio, un diamante
Porque talhasse miu çtino fuorte:
Qual stroça carambelos nas regiones de l Norte,
Qual, an cantarie, l aço penetrante!

La bida ye speilho, bidro chiçpante!
Cun diamante bou a talhar la suorte,
Gana firme, que eilha corte, corte
Siempre adreito, fondo, siempre alantre!

Alantre anté cortares tue eimaige
Que nun sigundo lhúcido antrebiste
Gigante eigual a l suonho i a la miraige.

Eigual a l suonho, la alma! Hoije, aspuis …
(los homes son ganas, de alma an riste)
Sufrir! Lhuitar! Ye l néctar de los heiróis!

(l'oureginal) O diamante da vontade

Deu-me Deus, à partida, um diamante
Porque talhasse meu destino forte:
Qual quebra gelos nas regiões do Norte,
Qual, em granito o aço penetrante!

A vida é espelho, vidro faiscante!
Com diamante vou talhar a sorte,
Vontade firme, que ela corte, corte
Sempre a direito, a fundo, sempre avante!

Avante até cortares tua imagem
Que num segundo lúcido entreviste
Gigante igual ao sonho e à miragem.

Igual ao sonho, a alma! Hoje, depois …
(os homens são vontades, de alma em riste)
Sofrer! Lutar! É o néctar dos heróis!


Padre Zé, S. Vicente de Cabo Verde, 1957

22.3.09

Falando de l Abade - l bino

Estaba, ua béç, tie Sabel Pedrica sintada nas escaleiras de Tiu Moisés i tiu Juán Manulón no puial de tiu Calachas, cula bexiga na mano, quando la cumbersa chega a este punto:
- Anda que tu tamien inda faziste la parte bien feita. Tengo bien pena miu pai tamien estar metido nessa alhada. Tu nun eras de los piores, mas tu i Papilongo i Perrera …
- Iou nun era malo!
- Tu nun eras malo mas bien fuste a anchir los odres de bino. Passábades por ua buraca de la casa de Perrera scurrepechestes l bino a l Abade. Papilongo (tiu Eiduardo cardador ) roubou l un corte de suola i outro de bezerro … Cristo lhebou l candeeiro i Perrera l que lhebou naide l sabe, fuora l bino, el nun era grande frasca mas bós tamien nun le dábades çcanso … érades cume Luciferes.


Buonas tardes
i buonas pingas

18.3.09

Los filhos de l Abade Baçal

- A bós inda bos lembra de l Abade Baçal?
- A mi? sí … lembro lembro. La proba que habie muita amisade antre mius pais e él … ye que mie madrina i miu padrino eran sous filhos. Iou inda me lembro de andar alhá na casa de la Abadia nos braços deilhes: miu padrino era tiu Jaime, filho de l Abade; mie madrina era tie Cremilde, filha de l Abade.
- Mas tiu Jaime era de Ifanheç.
- La mai era de Ifanheç mas l pai bibie acá.
- Antón era cume l Abade Manuol Sardina: tenie ua carrada de filhos i cuntinou a ser abade!
- Á sí. Mas los filhos deste nun podien nacer na Abadia … que you me lembro tubo nuobe: tiu Baçal de Samartino …
- L que cortaba l pelo?
- Esse. I la mulhier de tiu Peripau tamien d’alhá, tie Cleméncia. Acá, tie Talbina i tie Adília, quatro. An Custantín, tiu Galucho … cinco. Aspuis habie quatro an Ifanheç: tiu Jaime, tie Cremilde, tie Sabel i l Norberto … nuobe. Esses són los que se sabe, mas inda dezien que tenie más alhá para Malhadas …nun sei. Nuobe conheci iou. Sabes que dantes, a los padres, nunca los tiraban deiqui, bebien bien, sobra-le tiempo i l trabalho nun era de sudar muito …


Buonas nuites
i muita ambeija

15.3.09

Manuol Sardina


cartón cun banda negra al redor
.
Manuol Sardina, l Abade Manuel Joaquim Sardinha era natural de Samartino, nacido an 1841 i cume dezie Leite Vasconcelos an 1884 "... Manuel Sardinha é de estatura regular, e magro; posto que novo, inculca mais idade que a verdadeira; os seus olhos são cheios de bondade..."
Mas esso naquel tiempo, porque se l ponirmos dúzia i meia d’anhos menos, possiblemente tenemos la pessona que stá no retrato. Sí! esse todo ye l Abade Manuol Sardina, probablemente un de los poucos retratos que tirou an sue mocidade (Coimbra ou Braga) relegiosamiente guardado por ua biznieta de Cicuiro: Pilar, filha de Tiu Calachas!
Tiu Calachas, nieto de l Abade, tubo un armano que se morriu no Brasil – adonde él tamien stubo - i ua armana que se casou an Angueira. Naciu nos aprecípios de l Séclo XX mas yá nun conheciu l abó. An todo l causo, según diç la família, la mai criou-se an casa de l Abade.
Manginai antón a Tiu Calachas cun menos sessenta anhos i cun más pelo. Nun ye retratado mas que dá ares, dá.
I esta ye la rezón porque bos amostro l maior búltio de la cultura mirandesa de l séclo XIX: la sue decendéncia an Cicuiro!

Buonas nuites
I buona suorte

8.3.09

La tue stória

LA TUE STÓRIA

La tue stória ye simplesmente guapa!
Mesmo que la tenga lido solo ua béç
Nos tous uolhos brelhantres quelor de estreilha,
Sei de cor quanto bales i quien sós.

Cunta-me siempre stórias cumo eilha
Berdadeiras, an lhuita, i sien robés:
La nubre nun apaga l sol que bela,
No fin há de brelhar cun altibéç.

Si, cunta de nuobo la tue stória
Rica de mil tesouros i de glória;
Iou gusto tanto, tanto oubir dezir:

“era ua beç un home”… stória linda
que se repite an todos nós inda,
armano, tu bales tanto sien saber.

(no oureginal) A TUA HISTÓRIA

A tua história é simplesmente bela!
Embora a tenha lido uma só vez
Nos teus olhos brilhantes cor de estrela,
Sei de cor quanto vales e quem és.

Conta-me sempre histórias como ela
Verdadeiras, em luta, e sem revés:
A nuvem não apaga o sol que vela,
No fim há-de brilhar com altivez.

Sim, conta-me de novo a tua história
Rica de mil tesouros e de glória;
Eu gosto tanto, tanto ouvir dizer:

“era uma vez um homem”… história linda
que se repete em todos nós ainda,
irmão, tu vales tanto sem saber.

Padre Zé - Mindelo, Cabo Verde, 1958

6.3.09

Ancuontro de Bloguers de l Praino

Cume mardomo lomeado para marcar l die i l sítio de l ajuntamiento para este anho, eiqui bos traio la mie scuolha: l die por ser un Sábado no més que quaije todo mundo ten uas tardes para bagamundiar i l sítio porque ye mágico. Estube alhá ua béç - l die que tirei este retrato - i mirar deiqui adreitos a la Cándena ye sentir l ferber de l Carril Mourisco atando cume ua maroma la Trindade, l Naso i la Lhuç, presas nos borbiones de l Alto de la Zebra ou de Cabeço Lhebreiro.
De l porgrama eiremos falando.

Buonas nuites
i buona suorte

4.3.09

La pruma i l arado

LA PRUMA I L ARADO

La pruma rabiscando ye miu arado
L papel rabiscado, la sementeira
Ganhando l pán por Dius abençoado
Bou trabalhando assi la mie jeira.

Solo Dius sabe los martírios i cuidado
Na sembra i amanho d’ua lheira
De eideias sembradas nua arada!
Por cierto nun hai maior canseira.

Reilha de pruma, rasga más i fondo
Sien miedo de l papel seis cientas bezes,
Que a las bezes ua eideia bira l mundo.

La eideia quebra l nuolo de mil rebezes
La eideia assuca la tierra i mar porfundo
La eideia fizo heiróis los pertueses.

(no oureginal) A PENA E O ARADO

A pena rabiscando é meu arado
O papel rabiscado, a sementeira
Ganhando o pão por Deus abençoado
Vou trabalhando assim a minha jeira.

Só Deus sabe os martírios e cuidado
No cultivo e amanho de uma leira
De ideias semeadas num lavrado!
Porventura não há maior canseira.

Relha de pena, rasga mais e fundo
Sem medo no papel seiscentas vezes,
Que às vezes uma ideia volve o mundo.

A ideia quebra o nó de mil reveses
A ideia sulca a terra e mar profundo

A ideia fez heróis os portugueses.

Padre Zé, TERRA MINHA MÃE, Edições Salesianas, 1.ª edição, Porto 2002