29.3.10

A spera nun cunsultório

.          An tues manos iou sou un lápeç.
.          Yá fui árbol. Yá fui passado,
.          Serei tamien feturo
.          Á, miu Dius, i ye esso que iou precuro.
.          Mas l feturo ye tan grande
.          Cume l tiempo i l spácio,
Ye mesmo quaije anfenito.
Quererás, tu, arrochá-lo nun abraço?
.          Einutl! L feturo chama por ti
.          Mesmo que abance bagarosamente.
El bate an tous pulmones
An tous pies i tous braços:
I quaije nun se sinte.
.          Ye cume l bolo de la androlina
.          Reboltiante, parabolóide.
.          Mui ralo l feturo se adabina.
Quanto tiempo passou dzde
Que ampecei a screbenhar? Nun sei.
.          Sei que nada sei.
.          I assi l tiempo fuje
.          Un die tamien you passarei.
A cada resfuolgo stou deixando
Para trás, qualquiera cousa de l miu ser:
.          Iou sou tan solo ua lhágrima
.          Que persinto abrolhando
.          De l tiempo que yá passei
I, an parte, dzaporbeitei
I nun torna más. Á mie delor.
Mas l que alhá bai alhá bai.
Nien por esso stou chorando.
(no oureginal)
À espera num consultório
.          Em tuas mãos eu sou um lápis.
.          Já fui árvore. Já fui passado,
.          Serei também futuro
.          Ah, meu Deus, e é isso que eu procuro.
.          Mas o futuro é tão grande
.          Como o tempo e o espaço,
É mesmo quase infinito.
Quererás, tu, apertá-lo num abraço?
.          Inútil! O futuro espera por ti
.          Mesmo que avance lentamente.
Ele pulsa em teus pulmões
Em teus pés e teus braços:
E quase não se sente.
.          É como o voo da andorinha
.         Curvejante, parabolóide.
.          Muito raro o futuro se adivinha.
Quanto tempo passou desde
Que comecei a escrevinhar? Não sei.
.          Sei que nada sei.
.          E assim o tempo foge
.          Um dia também eu passarei.
A cada respiro estou deixando
Para trás, qualquer coisa do meu ser:
.          Eu sou apenas uma lágrima
.          Que pressinto abrolhando
.          Do tempo que já passei
E, em parte, até esbanjei
E não volta mais. Ó minha dor.
Mas o que lá vai, lá vai.
Nem por isso estou chorando.


José Francisco Fernandes - Padre Zé
Oliveira do Bairro 200...

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