Esta fotografia já tem mais de quarenta anos. Os motivos mais importantes são a capa de honra e o carro de bois. O cicuirano que aparece no quadro é um mero detalhe.
Nace de l galaton de ls Lhameirones i de l'augueira de la Lhagonica: L sítio de l Boieiro i de Manolacas
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18.10.08
27.9.08
Recordação
12.7.08
Costumes Antigos
22.6.08
Cebolos em Montreal(Canadá)
Hoje descobri que os Cebolos também andam por Montreal. Aqui envio a fotografia da Brizida Martins, nascida em S. Martinho mas filha de Serafim Martins e neta de Faustino Martins (Cebolos de Cicouro)). Com o marido, de Malhadas, é proprietária do Café-Bar Bifteck no famoso Boul. Saint-Laurent em Montreal
6.6.08
Tiu António Delgado - Autor de Cascos
Tiu António Delgado foi inspirado autor de Cascos.
Valdemar da Assunção Gonçalves, Presidente da Associação "Renascer das Tradições", Póvoa - Miranda do Douro, refere dois. Quem terá pistas dos restantes?
Ilusões transmontanas -Versão original recolhida em Cicouro, datada de 1956 e composta por António Delgado Ramos, também natural de Cicouro.Foi representado na Póvoa em 1990.
Amor de amargura ganhado pelos cristãos -Versão recolhida em Cicouro de um manuscrito datado de 1953.Foi composto pelo Sr. António Delgado Ramos de Cicouro.Há notícia de uma representação em 1953 e de outra por volta de 1959 em Cicouro.
Ilusões transmontanas -Versão original recolhida em Cicouro, datada de 1956 e composta por António Delgado Ramos, também natural de Cicouro.Foi representado na Póvoa em 1990.
Amor de amargura ganhado pelos cristãos -Versão recolhida em Cicouro de um manuscrito datado de 1953.Foi composto pelo Sr. António Delgado Ramos de Cicouro.Há notícia de uma representação em 1953 e de outra por volta de 1959 em Cicouro.
4.6.08
Nós tenemos muitos nabos
Terá sido à beira do bucólico chafariç de Ourrieta Cuba-Cicuiro que nasceu a já imortalizada cantiga "Nós tenemos muitos nabos"? Há quem assim acredite. Se por lá passarem e abrirem os olhos do coração, ainda poderão escutar a música maviosa dos chocalhos dos carneiros e os suspiros da rapaza a ouvir da boca do seu pastor a cantiga inspirada por um amor eterno.
(Como sempre, fotografia do Boieiro)1.6.08
29.5.08
NAZO
O automóvel rasgava os campos pardos e pedregosos, acachapados pela canícula de Setembro.
‑ Esta viagem de Cicouro ao Nazo ‑ explicava o Manuel Transmontano, com uma ponta de exaltação na voz ‑, fazia‑a eu todos os anos a pé, eram cinco horas bem medidas a dar às canelas por esses caminhos de cabras. Desde que comecei a ter barba na cara, não me lembro de ter faltado a uma festa do Nazo. Aquilo sim, eram bons tempos. E aqui, nesta encruzilhada, foi onde me saiu ao caminho um lobo, quando eu, altas horas da noite, regressava a casa da festa da Nossa Senhora da Luz...
‑ Ó pai, já lhe ouvimos essa história vezes sem conta, e sempre com uma versão diferente ‑ repreendeu‑o a filha, piscando o olho ao Michel.
‑ Mas é a pura verdade. O que me valeu foi que nesse tempo eu era só pele e osso e o lobo, com certeza, não me achou grande fartura, deu meia volta ao rabo e foi à procura de presa mais gorda.
Rabugento, afligido pelo calor, faces rosadas em brasa, o Pierre saltava duns braços para os outros.
- Se te portares bem, prometo mostrar‑te os burros na feira
Logo o petiz se aninhou, sem tugir, no regaço da avó. Doido por burros, num alvoroço, durante aqueles primeiros oito dias de férias, arrastara sem descanso o avó aldeia fora, por cortinhas e currais, no encalço das pachorrentas alimárias.
‑ Eh Michel, no próximo Natal, dá um burro ao teu filho. É o melhor presente que lhe podes oferecer.
*
Foi entre risadas que chegaram ao Nazo. No alto do monte escalvado, a capelita de talha austera desafiava o tempo, os sinos num repique festivo.
‑ Está como há vinte anos ‑ murmurou o Manuel Transmontano.
E logo, os olhos carregados de evocações com o freio nos dentes, esquecido da família que fazia das tripas coração para o não perder de vista, misturou‑se ao povoléu. Perdeu‑se por entre as barracas de feirantes. mercou encarniçadamente um cinto de cabedal, abeirou‑se dos negociantes de gado, escutou a lábia dos ciganos que procuravam, tal como no seu tempo, vender burro velho por cavalo, juntou‑se às famílias que, no adro, à sombra dos choupos, abriam os farnéis imensos e desenrolhavam os garrafões de vinho. Já o sol dardejante ia alto e o ar vibrante, carregado de odores pesados, mal se podia respirar, o suor a abrir‑lhe regos pelas costas abaixo, arrastou a família esfalfada até às barracas de comes‑e‑bebes.
- Aqui, Michel,‑ voltou‑se para o genro ‑ vais‑te regalar com o melhor petisco do mundo. No Canadá não encontras nada disto, acredita em mim.
O Michel, a enxugar o suor do rosto com as costas da mão, ria meio aturdido pelas pinceladas fortes do quadro: as vitelas suspensas do travejamento do telhado dos barracões, a fumarada acre que subia dos braseiros onde a carne rechinava, as mesas de madeira corridas a abarrotar de comensais folgazões.
‑ Bien sûr, Manuel. Allons‑y.
Abancaram numa das mesas que acabara, por milagre, de vagar.
‑ Há tantas moscas por aqui ‑ queixou‑se a filha
‑ Já não é como dantes ‑ engelhou o nariz a mulher, olhando de esguelha os pratos de esmalte enbeiçados e limpando disfarçadamente o talher à fímbria da saia.
Mesmo o Michel, sempre tão delicado e esforçado por lhe ser agradável, também não o enganava, bem lhe sentia os olhos inquietos cravados nas mãos encardidas da velha que virava a carne no lume.
Só o neto é que parecia divertir‑se, aos pontapés a um canzarrão cheio de carraças que, debaixo da mesa, enxotava as moscas e o calor com o rabo.
‑ Claro que isto está como antigamente, vocês é que estão mais fidalgas. Mas se não quiserem, não comam que a mim não me faz grande diferença. Olhem, talvez encontrem para aí perdido algum McDonald's onde matar a fome.
E, quando a vitela veio para a mesa, enterrou vigorosamente a faca na carne suculenta. Levou um naco à boca e, lábios besuntados, a mastigar, regalado, deixou os pensamentos vogarem tranquilamente à tona da memória, até aos longínquos tempos em que, rapazote quase imberbe, depois de se banquetear com uma avantajada posta à mirandesa, à sombra daquele carvalho que dali avistava, estava em crer ser o mesmo, atrás dumas touças, perdera a inocência entre as coxas morenas duma cigana generosa.
- Em que estás a pensar? ‑ estranhou‑lhe a mulher o olhar vidrado.
A cara do Manuel Transmontano estilhaçou‑se num sorriso avelhacado.
- Logo à noite, conto‑te.
‑ Esta viagem de Cicouro ao Nazo ‑ explicava o Manuel Transmontano, com uma ponta de exaltação na voz ‑, fazia‑a eu todos os anos a pé, eram cinco horas bem medidas a dar às canelas por esses caminhos de cabras. Desde que comecei a ter barba na cara, não me lembro de ter faltado a uma festa do Nazo. Aquilo sim, eram bons tempos. E aqui, nesta encruzilhada, foi onde me saiu ao caminho um lobo, quando eu, altas horas da noite, regressava a casa da festa da Nossa Senhora da Luz...
‑ Ó pai, já lhe ouvimos essa história vezes sem conta, e sempre com uma versão diferente ‑ repreendeu‑o a filha, piscando o olho ao Michel.
‑ Mas é a pura verdade. O que me valeu foi que nesse tempo eu era só pele e osso e o lobo, com certeza, não me achou grande fartura, deu meia volta ao rabo e foi à procura de presa mais gorda.
Rabugento, afligido pelo calor, faces rosadas em brasa, o Pierre saltava duns braços para os outros.
- Se te portares bem, prometo mostrar‑te os burros na feira
Logo o petiz se aninhou, sem tugir, no regaço da avó. Doido por burros, num alvoroço, durante aqueles primeiros oito dias de férias, arrastara sem descanso o avó aldeia fora, por cortinhas e currais, no encalço das pachorrentas alimárias.
‑ Eh Michel, no próximo Natal, dá um burro ao teu filho. É o melhor presente que lhe podes oferecer.
*
Foi entre risadas que chegaram ao Nazo. No alto do monte escalvado, a capelita de talha austera desafiava o tempo, os sinos num repique festivo.
‑ Está como há vinte anos ‑ murmurou o Manuel Transmontano.
E logo, os olhos carregados de evocações com o freio nos dentes, esquecido da família que fazia das tripas coração para o não perder de vista, misturou‑se ao povoléu. Perdeu‑se por entre as barracas de feirantes. mercou encarniçadamente um cinto de cabedal, abeirou‑se dos negociantes de gado, escutou a lábia dos ciganos que procuravam, tal como no seu tempo, vender burro velho por cavalo, juntou‑se às famílias que, no adro, à sombra dos choupos, abriam os farnéis imensos e desenrolhavam os garrafões de vinho. Já o sol dardejante ia alto e o ar vibrante, carregado de odores pesados, mal se podia respirar, o suor a abrir‑lhe regos pelas costas abaixo, arrastou a família esfalfada até às barracas de comes‑e‑bebes.
- Aqui, Michel,‑ voltou‑se para o genro ‑ vais‑te regalar com o melhor petisco do mundo. No Canadá não encontras nada disto, acredita em mim.
O Michel, a enxugar o suor do rosto com as costas da mão, ria meio aturdido pelas pinceladas fortes do quadro: as vitelas suspensas do travejamento do telhado dos barracões, a fumarada acre que subia dos braseiros onde a carne rechinava, as mesas de madeira corridas a abarrotar de comensais folgazões.
‑ Bien sûr, Manuel. Allons‑y.
Abancaram numa das mesas que acabara, por milagre, de vagar.
‑ Há tantas moscas por aqui ‑ queixou‑se a filha
‑ Já não é como dantes ‑ engelhou o nariz a mulher, olhando de esguelha os pratos de esmalte enbeiçados e limpando disfarçadamente o talher à fímbria da saia.
Mesmo o Michel, sempre tão delicado e esforçado por lhe ser agradável, também não o enganava, bem lhe sentia os olhos inquietos cravados nas mãos encardidas da velha que virava a carne no lume.
Só o neto é que parecia divertir‑se, aos pontapés a um canzarrão cheio de carraças que, debaixo da mesa, enxotava as moscas e o calor com o rabo.
‑ Claro que isto está como antigamente, vocês é que estão mais fidalgas. Mas se não quiserem, não comam que a mim não me faz grande diferença. Olhem, talvez encontrem para aí perdido algum McDonald's onde matar a fome.
E, quando a vitela veio para a mesa, enterrou vigorosamente a faca na carne suculenta. Levou um naco à boca e, lábios besuntados, a mastigar, regalado, deixou os pensamentos vogarem tranquilamente à tona da memória, até aos longínquos tempos em que, rapazote quase imberbe, depois de se banquetear com uma avantajada posta à mirandesa, à sombra daquele carvalho que dali avistava, estava em crer ser o mesmo, atrás dumas touças, perdera a inocência entre as coxas morenas duma cigana generosa.
- Em que estás a pensar? ‑ estranhou‑lhe a mulher o olhar vidrado.
A cara do Manuel Transmontano estilhaçou‑se num sorriso avelhacado.
- Logo à noite, conto‑te.
25.5.08
Versos do Tiu Andreia
24.5.08
Autor da Monografia de Cicouro
TORRÃO, Júlio Delfim
Nasceu a 23/06/ /1938 em Cicouro, concelho de Miranda do Douro. Fez a 4ª classe com distinção na aldeia onde nasceu e aí viveu até cumprir o Serviço Militar em 1959/60. Em 1961 alistou se na P.S.P.. Integrado na 5a Companhia Móvel da RS.P. é destacado, em comissão de Serviço, para Moçambique, onde permaneceu durante 14 anos, exercendo 6 como polícia e 8 como oficial administrativo. Aí tentou conciliar a actividade profissional, a defesa dos interesses familiares e a prossecução dos estudos. Persistente, como todo o bom mirandês, elegeu os livros e o permanente esforço pessoal para atingir o acesso à Universidade, o que conseguiu em 1973, em Lourenço Marques, onde então trabalhava na Procuradoria da República com cargo de chefe de secção. Com a revolução do 25 de Abril de 1974, viu se forçado a regressar a Portugal, mas não abandonou o desejo de ir mais longe nos estudos. Colocado na Escola Secundária de Montemor o Velho, onde chefiou os Serviços Administrativos, concluiu a licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra em 1980 e, consequentemente, o estágio em advocacia. Na carreira administrativa, entre 1983 e 1999 desempenhou as funções de Inspector administrativo e financeiro do Ministério da Educação, na Delegação Regional de Coimbra, assumindo a coordenação do sector nos últimos seis anos. Como formador foi três vezes a Cabo Verde dar formação a novos inspectores daquele país com mais dois colegas. Foi Presidente da Assembleia Municipal de Montemoro Velho, durante quatro anos e desempenha há mais de dez anos consecutivos o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Cooperativa de Habitação Económica Tricana Conimbricense, sedeada em Coimbra, através da qual apadrinhou, com
muita carolice e canseiras desmedidas, a construção de três blocos com 66 habitações e 4 lojas, na vila de Montemor o Velho. Colabora com a imprensa local e regional, escrevendo, com certa regularidade, artigos sobre temas simples e alguns recados políticos à mistura. Embora viva e exerça a advocacia em Montemor o Velho, nunca esqueceu o torrão natal, onde reconstruiu os velhos casebres de seus avós maternos, livrando os da condenação à ruína total como parece estar a maior parte do velho casario da aldeia de Cicouro.
Domingos Raposo
In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura. Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães
Nasceu a 23/06/ /1938 em Cicouro, concelho de Miranda do Douro. Fez a 4ª classe com distinção na aldeia onde nasceu e aí viveu até cumprir o Serviço Militar em 1959/60. Em 1961 alistou se na P.S.P.. Integrado na 5a Companhia Móvel da RS.P. é destacado, em comissão de Serviço, para Moçambique, onde permaneceu durante 14 anos, exercendo 6 como polícia e 8 como oficial administrativo. Aí tentou conciliar a actividade profissional, a defesa dos interesses familiares e a prossecução dos estudos. Persistente, como todo o bom mirandês, elegeu os livros e o permanente esforço pessoal para atingir o acesso à Universidade, o que conseguiu em 1973, em Lourenço Marques, onde então trabalhava na Procuradoria da República com cargo de chefe de secção. Com a revolução do 25 de Abril de 1974, viu se forçado a regressar a Portugal, mas não abandonou o desejo de ir mais longe nos estudos. Colocado na Escola Secundária de Montemor o Velho, onde chefiou os Serviços Administrativos, concluiu a licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra em 1980 e, consequentemente, o estágio em advocacia. Na carreira administrativa, entre 1983 e 1999 desempenhou as funções de Inspector administrativo e financeiro do Ministério da Educação, na Delegação Regional de Coimbra, assumindo a coordenação do sector nos últimos seis anos. Como formador foi três vezes a Cabo Verde dar formação a novos inspectores daquele país com mais dois colegas. Foi Presidente da Assembleia Municipal de Montemoro Velho, durante quatro anos e desempenha há mais de dez anos consecutivos o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Cooperativa de Habitação Económica Tricana Conimbricense, sedeada em Coimbra, através da qual apadrinhou, com
muita carolice e canseiras desmedidas, a construção de três blocos com 66 habitações e 4 lojas, na vila de Montemor o Velho. Colabora com a imprensa local e regional, escrevendo, com certa regularidade, artigos sobre temas simples e alguns recados políticos à mistura. Embora viva e exerça a advocacia em Montemor o Velho, nunca esqueceu o torrão natal, onde reconstruiu os velhos casebres de seus avós maternos, livrando os da condenação à ruína total como parece estar a maior parte do velho casario da aldeia de Cicouro.
Domingos Raposo
In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura. Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães
22.5.08
CICOURO DAS MOÇAS GUAPAS
Numa página na net, sobre o folclore de Felgar, localidade do concelho de Moncorvo, encontrei esta preciosidade:
Os alhos são da Matela,
As panelas do Avinhó;
Os cucos de Pradinha,
E os búbelos, (poupa-pássaro) de Paçó
S. Martinho das tigelas,
Constantim dos pucarinhos
Cicouro das moças guapas,
e também dos valentinos.
Os alhos são da Matela,
As panelas do Avinhó;
Os cucos de Pradinha,
E os búbelos, (poupa-pássaro) de Paçó
S. Martinho das tigelas,
Constantim dos pucarinhos
Cicouro das moças guapas,
e também dos valentinos.
19.5.08
REGRESSO
O Manuel Transmontano acordou com o berreiro desenfreado dos galos.
Na cozinha, foi encontrar a irmã a tratar da lavadura dos porcos. Já o lume, num estralejar festivo, devorava um braçado de urzes.
‑ Está frio.‑ Sentou‑se no escano e avançou as mãos para o lume. ‑ Já parece o Canadá.
‑ Diz quem sabe que este ano vai nevar muito ‑ respondeu a irmã. ‑ Deixa‑te ficar aí que eu vou levar a bianda aos cochinos. O café já está quase quente.
O Manuel apoiou as omoplatas na dureza do espaldar do escano. Embrulhado num manto de mil evocações com o freio nos dentes: aquele lume estralejante a saltar‑lhe às mãos como um cachorro; o eterno caldeiro cachoante de água fumegante; os potes de ferro resquentando a sopa; aquele fumo acre que se acumulava em nuvens densas e azuladas, matizadas pela luz do dia nascente, lá junto às vigas escurecidas do telhado donde pendia a armação do fumeiro, as varas ansiosas pela próxima matança; aquele mocho de castanho polido onde uma fogaça e uma caneca esmaltada esperavam o café.
‑Estavas a dormitar? ‑ Era outra vez a irmã. ‑ Nem quero acreditar que desta vez vens para ficar. ‑ O rosto curtido, enrolado no lenço negro, ensopou‑se de lágrimas velhas. ‑ E assim se nos foi a vida, Manuel, estamos acabados.
‑ Qual acabados, qual quê! Se tu visses aqueles canadianos! Quando se reformam é para viver, não é para se sentarem à espera da morte. Então as mulheres, se as
visses, velhotas de setenta anos e mais, parecem umas raparigas novas, bem trajadas, nada destes lutos de cá, cores claras, ricos penteados.
‑ Isso não é para estas terras. ‑ O café escorria, num murmúrio bom, para a caneca.‑ Não sei se a tua mulher, a Alzira, se vai dar por cá. Isto é um cemitério de velhos.
A mulher atirou um capão ao lume que, quando se viu com forças, atirou os braços rubros ao redor do caldeiro.
- Ela aceita de boa cara o regresso? Nas últimas férias, não me quis parecer.
‑ Que remédio tem ela.
Regresso! Palavra de mil alquimias. Nos primeiros tempos do Canadá fora abençoado remédio contra os males da saudade e do desenraizamento. Depois, à medida que novas raízes começaram a rasgar húmus imprevistos, transformara‑se, sem se darem conta disso, num processo lento, num espinho cravado nas carnes, num agente perturbador da paz de espírito.
Para não lhe perder o sentido, o Manuel, de tempos a tempos, evocava‑a: quando me reformar, regressamos a Portugal.
E semanas atrás, ao serão, num assomo de coragem, reunira as forças dispersas que lhe restavam, para falar:
"Dentro de seis meses, atinjo a reforma. Deveríamos ir a Portugal, preparar o regresso.
A lavar a loiça, de costas, o fio de voz da mulher era quase inaudível:
" Vai tu, sozinho. Agora, não posso deixar o nosso neto. Além disso, não precisas de mim para tratar do que há a tratar."
‑ A Alzira não se vai dar por cá. Cicouro já não é terra para ela. ‑ tornou a irmã. ‑ Vê lá se ela quis vir contigo!
‑ Cala‑te, dianho de mulher.‑ exasperou‑se. ‑ Não
veio porque não tinha com quem deixar o nosso netinho. Mas que raio de conversa esta!
‑ Mesmo tu estás diferente. Já não és homem para te enfiar neste buraco. ‑ teimou ela.
‑ Vai lá tratar dos porcos, anda! Estás a ficar velha, é o que é. De muita paciência precisa o teu marido, para te aturar.
Meio apoquentado pelas palavras da irmã, nessa manhã, quando se sentou à mesa da cozinha para escrever à mulher, o Manuel Transmontano falou‑lhe da casa que os esperava de braços abertos, da fidelidade do cunhado que tratara das terras com tanto zelo como se fossem dele, dos vivos e dos mortos, e, lá para a segunda página, num arroubo de coragem: "em todo o caso, ainda me sinto novo para trabalhar mais um ou dois anos, não é preciso apressar o regresso, não está nenhuma mulher para parir." Ficava assim aberta a porta para futuras negociações, no regresso a Montreal.
Depois, de coração liberto, saiu de casa e foi, rua abaixo, a falar a este e àquele, tão naturalmente como se nunca tivesse saido da terra.
Na cozinha, foi encontrar a irmã a tratar da lavadura dos porcos. Já o lume, num estralejar festivo, devorava um braçado de urzes.
‑ Está frio.‑ Sentou‑se no escano e avançou as mãos para o lume. ‑ Já parece o Canadá.
‑ Diz quem sabe que este ano vai nevar muito ‑ respondeu a irmã. ‑ Deixa‑te ficar aí que eu vou levar a bianda aos cochinos. O café já está quase quente.
O Manuel apoiou as omoplatas na dureza do espaldar do escano. Embrulhado num manto de mil evocações com o freio nos dentes: aquele lume estralejante a saltar‑lhe às mãos como um cachorro; o eterno caldeiro cachoante de água fumegante; os potes de ferro resquentando a sopa; aquele fumo acre que se acumulava em nuvens densas e azuladas, matizadas pela luz do dia nascente, lá junto às vigas escurecidas do telhado donde pendia a armação do fumeiro, as varas ansiosas pela próxima matança; aquele mocho de castanho polido onde uma fogaça e uma caneca esmaltada esperavam o café.
‑Estavas a dormitar? ‑ Era outra vez a irmã. ‑ Nem quero acreditar que desta vez vens para ficar. ‑ O rosto curtido, enrolado no lenço negro, ensopou‑se de lágrimas velhas. ‑ E assim se nos foi a vida, Manuel, estamos acabados.
‑ Qual acabados, qual quê! Se tu visses aqueles canadianos! Quando se reformam é para viver, não é para se sentarem à espera da morte. Então as mulheres, se as
visses, velhotas de setenta anos e mais, parecem umas raparigas novas, bem trajadas, nada destes lutos de cá, cores claras, ricos penteados.
‑ Isso não é para estas terras. ‑ O café escorria, num murmúrio bom, para a caneca.‑ Não sei se a tua mulher, a Alzira, se vai dar por cá. Isto é um cemitério de velhos.
A mulher atirou um capão ao lume que, quando se viu com forças, atirou os braços rubros ao redor do caldeiro.
- Ela aceita de boa cara o regresso? Nas últimas férias, não me quis parecer.
‑ Que remédio tem ela.
Regresso! Palavra de mil alquimias. Nos primeiros tempos do Canadá fora abençoado remédio contra os males da saudade e do desenraizamento. Depois, à medida que novas raízes começaram a rasgar húmus imprevistos, transformara‑se, sem se darem conta disso, num processo lento, num espinho cravado nas carnes, num agente perturbador da paz de espírito.
Para não lhe perder o sentido, o Manuel, de tempos a tempos, evocava‑a: quando me reformar, regressamos a Portugal.
E semanas atrás, ao serão, num assomo de coragem, reunira as forças dispersas que lhe restavam, para falar:
"Dentro de seis meses, atinjo a reforma. Deveríamos ir a Portugal, preparar o regresso.
A lavar a loiça, de costas, o fio de voz da mulher era quase inaudível:
" Vai tu, sozinho. Agora, não posso deixar o nosso neto. Além disso, não precisas de mim para tratar do que há a tratar."
‑ A Alzira não se vai dar por cá. Cicouro já não é terra para ela. ‑ tornou a irmã. ‑ Vê lá se ela quis vir contigo!
‑ Cala‑te, dianho de mulher.‑ exasperou‑se. ‑ Não
veio porque não tinha com quem deixar o nosso netinho. Mas que raio de conversa esta!
‑ Mesmo tu estás diferente. Já não és homem para te enfiar neste buraco. ‑ teimou ela.
‑ Vai lá tratar dos porcos, anda! Estás a ficar velha, é o que é. De muita paciência precisa o teu marido, para te aturar.
Meio apoquentado pelas palavras da irmã, nessa manhã, quando se sentou à mesa da cozinha para escrever à mulher, o Manuel Transmontano falou‑lhe da casa que os esperava de braços abertos, da fidelidade do cunhado que tratara das terras com tanto zelo como se fossem dele, dos vivos e dos mortos, e, lá para a segunda página, num arroubo de coragem: "em todo o caso, ainda me sinto novo para trabalhar mais um ou dois anos, não é preciso apressar o regresso, não está nenhuma mulher para parir." Ficava assim aberta a porta para futuras negociações, no regresso a Montreal.
Depois, de coração liberto, saiu de casa e foi, rua abaixo, a falar a este e àquele, tão naturalmente como se nunca tivesse saido da terra.
5.4.08
28.3.08
Al Pursor Sousa
Al fin i al cabo nós ye que mos amolemos. Faziran la scola, benieran pursores, al pursor Sousa i la senhora d’el, donha senhora pursora Oulália i se las cuontas i redaçones nun quedában bien, lhebábamos burdoada de meia nuite c’uã tabra de carbalho cun más de dous dedos que mal la biemos yá stabamos a tocar castanhuolas cun las queixadas cume se stubiramos dous meses no meio d’al çançeinho.
Se nun íbamos por la cria al cerrado a tiempo e horas, toma que són checolates costielhas abaixo: para benires a estas horas, andeste na juldeiriçe! Yá t’ansino. E pimba, se nun era d’un lhado era d’outro, l más de las bezes era de los dous.
…
Tanta porrada nun pudie acabar an bien, teneriê que arrebantar por algun lhado.
Ua manhana al pursor Sousa – se calha Donha Oulália nun le fizo las buntadicas todas al serano - ampeçou a malhar an nós cume an palha de çanteno. Las reguadas stalhaban cume al checote de tiu Manolo carroceiro.
- Dois vezes dois?, toma seu burro, sete menos cinco?, hoje rebento contigo.
Era al fin dal mundo por aqueilha scola fuora, al melhor naide salirie d’eilhi bibo. Quando apanhou la quinta, dada cun fuorça de cabalho strelhoucado cun la garotada toda arrimadica nua squina de la sala, parecie que staba a ber l diabro de tanto que al pursor fungaba e rugie, Jesé soltou meio ua relinchadela quando biu la tabra adreitos a la manica delorida e nun sperou más, atirou un puntapie nas partes de l algoz que anté la régua bolou por anriba de todos i spartiçou al bidro dal santo que staba culgado na parede e que naquel tiempo l chamaban de senhor pursor doutor Oulibeira Salazar.
Quedou l santo meio spartiçado, nós cagadicos de miedo i l pursor Sousa más branco que un lhançol de lhino a retroçer-se cun delores. Jesé saltou cume ua cabra jinela afuora i cun dous pinotes yá staba al pie de la cruç de la punta de riba de las eiras a ancubrir para Ourrieta Cuba.
Al final dal die nien seinhas de Jesé. Pais, armanos, abós, Cicuiro an peso, toda la gente a buscar toda la nuite i nien un sinal dal garoto.
Zbiroran currales, cabanhales, galhineiros e palombares, naide l achou. Yá se oubien bozes de zgrácia por todo l pobo.
Antón l cabo Mendes botou las ouriantaçones:
- Vamos fazer uma batida pelos montes.
Saliran perros, armoran-se los de las spingardas, ançandiran-se candeias e lampiones, oubien-se gritos zde los Cousses anté la Bicha. Parecie que era un ouxeio al lhobo, anté qu’achoran a Jesé, yá l die habie naçido, antre la Raia e los Poços de Cureca tolhidico de friu e de miedo, scundido cume un cuneilho nun matagal de xaras. Quedou para siempre cun l oulhar assustado e meio çaçamelo.
Quando la gente tornaba para trás, aspuis de tanto curaçón delorido mas más alebiado, al senhor pursor Sousa fui a sprá-los de manos nos bolsos e cun beiços de quien fai caçoada:
- Então o malandro já apareceu?
Al pai de Jesé mirou-lo cun uolhos brilhantes e brumeilhos de la ferbura dal sangre e dixo-le baixico bien adrento de l uolhar dal pursor c’ua bóç que angaranhie las benas:
- O senhor pusor Sonsa nunca mais torne a tocar num pelo do meu filho.
Al pursor inda l quijo faer frente mas al ber aquel mirar e tanta calagouça nas manos d’un pobo, derretiu-se cume ua pingueira al sol de Agosto, atou al cerrón e fui-se a meter an casa antes que la cuonta quedasse más negra que la caldeira de tie Marie Caganeta.
- Ordem, ordem, gritaba al senhor cabo Mendes.
Al pursor i la tie nun ganhoram pa l susto, passado pouco tiempo pediran para mudar para outro lhugar, i cume an Miranda nun cunseguie naide cun curaige para s’anterrar naquel fin de mundo, la scola fechou i quaije toda la garotada daprandiu nos lhibros que habien sido de sous abós.
Outros, poucos, furan para Custantín - los dal retrato
I cume dezie l cura Juán:
- Olha que isto não é vida para os teus filhos Josefa. Têm que aprender para ir mais longe que os seus pais.
Falaba cume se los filhos furan solo deilha mas la pocica de l queixo parecie mesmo la dal cura Juán. Inda hoije nun se sabe cun que auga benta los batizou para que deixaran las seinhas tán eiguales a el!
Adaptado de “As belas manhãs de Maria Constança” de Manuel Carvalho
buonas nuites
e buona suorte
.
Se nun íbamos por la cria al cerrado a tiempo e horas, toma que són checolates costielhas abaixo: para benires a estas horas, andeste na juldeiriçe! Yá t’ansino. E pimba, se nun era d’un lhado era d’outro, l más de las bezes era de los dous.
…
Tanta porrada nun pudie acabar an bien, teneriê que arrebantar por algun lhado.
Ua manhana al pursor Sousa – se calha Donha Oulália nun le fizo las buntadicas todas al serano - ampeçou a malhar an nós cume an palha de çanteno. Las reguadas stalhaban cume al checote de tiu Manolo carroceiro.
- Dois vezes dois?, toma seu burro, sete menos cinco?, hoje rebento contigo.
Era al fin dal mundo por aqueilha scola fuora, al melhor naide salirie d’eilhi bibo. Quando apanhou la quinta, dada cun fuorça de cabalho strelhoucado cun la garotada toda arrimadica nua squina de la sala, parecie que staba a ber l diabro de tanto que al pursor fungaba e rugie, Jesé soltou meio ua relinchadela quando biu la tabra adreitos a la manica delorida e nun sperou más, atirou un puntapie nas partes de l algoz que anté la régua bolou por anriba de todos i spartiçou al bidro dal santo que staba culgado na parede e que naquel tiempo l chamaban de senhor pursor doutor Oulibeira Salazar.
Quedou l santo meio spartiçado, nós cagadicos de miedo i l pursor Sousa más branco que un lhançol de lhino a retroçer-se cun delores. Jesé saltou cume ua cabra jinela afuora i cun dous pinotes yá staba al pie de la cruç de la punta de riba de las eiras a ancubrir para Ourrieta Cuba.
Al final dal die nien seinhas de Jesé. Pais, armanos, abós, Cicuiro an peso, toda la gente a buscar toda la nuite i nien un sinal dal garoto.
Zbiroran currales, cabanhales, galhineiros e palombares, naide l achou. Yá se oubien bozes de zgrácia por todo l pobo.
Antón l cabo Mendes botou las ouriantaçones:
- Vamos fazer uma batida pelos montes.
Saliran perros, armoran-se los de las spingardas, ançandiran-se candeias e lampiones, oubien-se gritos zde los Cousses anté la Bicha. Parecie que era un ouxeio al lhobo, anté qu’achoran a Jesé, yá l die habie naçido, antre la Raia e los Poços de Cureca tolhidico de friu e de miedo, scundido cume un cuneilho nun matagal de xaras. Quedou para siempre cun l oulhar assustado e meio çaçamelo.
Quando la gente tornaba para trás, aspuis de tanto curaçón delorido mas más alebiado, al senhor pursor Sousa fui a sprá-los de manos nos bolsos e cun beiços de quien fai caçoada:
- Então o malandro já apareceu?
Al pai de Jesé mirou-lo cun uolhos brilhantes e brumeilhos de la ferbura dal sangre e dixo-le baixico bien adrento de l uolhar dal pursor c’ua bóç que angaranhie las benas:
- O senhor pusor Sonsa nunca mais torne a tocar num pelo do meu filho.
Al pursor inda l quijo faer frente mas al ber aquel mirar e tanta calagouça nas manos d’un pobo, derretiu-se cume ua pingueira al sol de Agosto, atou al cerrón e fui-se a meter an casa antes que la cuonta quedasse más negra que la caldeira de tie Marie Caganeta.
- Ordem, ordem, gritaba al senhor cabo Mendes.
Al pursor i la tie nun ganhoram pa l susto, passado pouco tiempo pediran para mudar para outro lhugar, i cume an Miranda nun cunseguie naide cun curaige para s’anterrar naquel fin de mundo, la scola fechou i quaije toda la garotada daprandiu nos lhibros que habien sido de sous abós.
Outros, poucos, furan para Custantín - los dal retrato
I cume dezie l cura Juán:
- Olha que isto não é vida para os teus filhos Josefa. Têm que aprender para ir mais longe que os seus pais.
Falaba cume se los filhos furan solo deilha mas la pocica de l queixo parecie mesmo la dal cura Juán. Inda hoije nun se sabe cun que auga benta los batizou para que deixaran las seinhas tán eiguales a el!
Adaptado de “As belas manhãs de Maria Constança” de Manuel Carvalho
buonas nuites
e buona suorte
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16.3.08
Reboluçones
Tiu Luís era carteiro i un die por semana lhebaba de Miranda a Cicuiro - quatro léguas a pie, cun caminos de lhama ou de puolo - las cartas de todos i los jornales a los homes letrados: al cabo Mendes i tiu Cagón. Naquel die traie la grande nobidade: habien feito ua reboluçón an Lisboua!
Que cuntento staba tiu Luís, aposto que era desta que le daban ua farda i ua bicicleta, pus se los outros carteiros por ende afuora la tenien el nun serie menos home, conho.
…
Tiu Cagón que fizo lhougo uns bersos para feçtejar andaba a dezi-los a bozes por todo Cicuiro cun l papel nua mano, la garrafa de l’augardiente noutra i los uolhos grandes i brumeilhos cume al sol quando se çpón.
- Biban los nuossos salbadores! Ah conho que ye agora que si ampeça la fartura! Desta si se acaban los curas.
Cume el nun s’ancreditaba an Dius, dezie que era todo ua aldrabonice de los curas para quemeren i bueren a la farta sien trabalhar. Cunta-se que un die quando benie pul meio de la nuite, a cair de borracho, de la fiesta de San Marcos – la Lhuç – no meio d’ua grande tormenta ampeçou cun blasfémias i heiresias:
- Pus se hai diabro que benga yá eiqui!
Nisto ben un relhampo seguido d’un truno cume nunca se habien bido e oubido an toda la raia. Ah Antonho Antonho que desta si t’apanha. Al susto fui tamanho que la merda resbalaba de las piernas anté anchoquecer las meias de lhana. Diç que por esso se quedou a chamar Cagón!
- Biban los nuossos salbadores, dezie el a cada golada.
Bebiu tanto que caiu redondo nua buosta e no aguemitado a la puorta de tie Joana.
Los homes quedoran toda la nuite a falar no sagrado çquecidos dal trabalho e de l agarimo de casa.
- Sabe o que se passa senhor cabo Mendes? E o senhor padre João, sabe?
Eilhes cume nun eran bruxos tamien nun sabien grande cousa.
- Conho, sabemos tanto como vocês.
Estaban todos eilhi, cume abeilhas sin rainha, anté que se scurre ua eideia al cabo Mendes: carago, eu sou a autoridade, tenho o dever de esclarecer esta gente … vou-me já mandar a patrulha a Miranda.
- E vocês regressem às vossas casas, botou él cun bóç gorda, porque o principal é haver ordem nestes momentos difíceis.
- E não se esqueçam de rezar o terço pelos novos dirigentes, acreçantou al senhor padre Juán.
Cada qual reculhiu-se para sue casa sin dezir más palabra, menos al senhor padre, listo cume quaije todos los curas, que quedou scundido an casa de Jesefa, biuda habie por ende três meses. Mirai tán pouco tiempo, inda al defunto staba caliente i yá eilha naqueilhes strafegos.
Pus sí, lhuito tenie a muntones, mas antes el caliente do que eilha ancalhada …
Adaptado de “As belas manhãs de Maria Constança” de
Manuel Carvalho http://www.manuelcarvalho.8m.com/uma1.html
Oubrigado Manuel
Que cuntento staba tiu Luís, aposto que era desta que le daban ua farda i ua bicicleta, pus se los outros carteiros por ende afuora la tenien el nun serie menos home, conho.
…
Tiu Cagón que fizo lhougo uns bersos para feçtejar andaba a dezi-los a bozes por todo Cicuiro cun l papel nua mano, la garrafa de l’augardiente noutra i los uolhos grandes i brumeilhos cume al sol quando se çpón.
- Biban los nuossos salbadores! Ah conho que ye agora que si ampeça la fartura! Desta si se acaban los curas.
Cume el nun s’ancreditaba an Dius, dezie que era todo ua aldrabonice de los curas para quemeren i bueren a la farta sien trabalhar. Cunta-se que un die quando benie pul meio de la nuite, a cair de borracho, de la fiesta de San Marcos – la Lhuç – no meio d’ua grande tormenta ampeçou cun blasfémias i heiresias:
- Pus se hai diabro que benga yá eiqui!
Nisto ben un relhampo seguido d’un truno cume nunca se habien bido e oubido an toda la raia. Ah Antonho Antonho que desta si t’apanha. Al susto fui tamanho que la merda resbalaba de las piernas anté anchoquecer las meias de lhana. Diç que por esso se quedou a chamar Cagón!
- Biban los nuossos salbadores, dezie el a cada golada.
Bebiu tanto que caiu redondo nua buosta e no aguemitado a la puorta de tie Joana.
Los homes quedoran toda la nuite a falar no sagrado çquecidos dal trabalho e de l agarimo de casa.
- Sabe o que se passa senhor cabo Mendes? E o senhor padre João, sabe?
Eilhes cume nun eran bruxos tamien nun sabien grande cousa.
- Conho, sabemos tanto como vocês.
Estaban todos eilhi, cume abeilhas sin rainha, anté que se scurre ua eideia al cabo Mendes: carago, eu sou a autoridade, tenho o dever de esclarecer esta gente … vou-me já mandar a patrulha a Miranda.
- E vocês regressem às vossas casas, botou él cun bóç gorda, porque o principal é haver ordem nestes momentos difíceis.
- E não se esqueçam de rezar o terço pelos novos dirigentes, acreçantou al senhor padre Juán.
Cada qual reculhiu-se para sue casa sin dezir más palabra, menos al senhor padre, listo cume quaije todos los curas, que quedou scundido an casa de Jesefa, biuda habie por ende três meses. Mirai tán pouco tiempo, inda al defunto staba caliente i yá eilha naqueilhes strafegos.
Pus sí, lhuito tenie a muntones, mas antes el caliente do que eilha ancalhada …
Adaptado de “As belas manhãs de Maria Constança” de
Manuel Carvalho http://www.manuelcarvalho.8m.com/uma1.html
Oubrigado Manuel
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