31.5.08

Teçtamiento de l Galho III


19
Já me esquecia da garganta
Ainda não testamentada
Dêem-na a quem não canta
Ou então a alguma ladra.

20
Deixo o bico tão querido
E todas as minhas intrigas
Ao aluno mais crescido
Que belisque as raparigas.

21
Deixo a minha crista
E símbolo de vaidade
Ao rapaz mais fadista
Que haja na mocidade.

22
Às moças mais vaidosas
Deixo o rabo para um leque
Para que enxotem as moscas
E lhes sirva de enfeite.

23
Ao moço mais namorador
Deixo-lhe as minhas asas
Para que possa melhor
Voar para as namoradas.

24
Aos menos namoradores
Deixo-lhes a minha arte
De conquistar o amor
Aqui e em toda a parte.

25
Deixo as unhas dos pés
Para as mulheres viúvas
Se arranharem outra vez
Se lhe morderem as pulgas.

26
Deixo a miola das tripas
Com tudo o que lá tiver
À mulher mais rabugenta
Que neste bairro houver.

27
O papo que em todo o tempo
Me serviu de celeiro
Deixo-o ao mais avarento
Para bolsa do dinheiro.

28
Deixo o corpo á professora
E a vida ofereço a Deus
Pelos alunos desta escola
Que sejam discípulos seus.


cuntina

Buonos dies

i buona suorte.

.

29.5.08

L Teçtamiento de l Galho II


10
Amarrado ao cadafalso
Já não posso fazer nada
Deixo todo o meu legado
Às ordens da rapaziada.

11
Cicouro, ___ de ____ (data do dia)
Dito a última vontade
Faço o meu testamento
No cartório da mocidade.

12
Deixo à dona que me vendeu
Como primeira herdeira
O que por mim recebeu
E o que deixei na capoeira.

13
Deixo móveis e imóveis
Assim como os meus dentes
Que os repartam pelos pobres
E pelos outros parentes.

14
Deixo os olhos aos cegos
E os ouvidos aos surdos
As penas são para os coxos
E a língua para os mudos.

15
Deixo o sangue e uma pena
Ao aluno mais letrado ….
Que escreva quando queira
A quem for do seu agrado.

16
E deixo as minhas barbas
Vermelhinhas e tão belas
Ao primeiro estroça albardas
Que venha a precisar delas.

17
Deixo o despertador
Que era tão apetecido
Ao maior madrugador
Que vejo não está perdido.

18
Àquilo que nem me lembro o nome
E que era tão desejada
Deixo-a a uma mulher sem homem
Ou que seja mal casada.
cuntina
Buonas nuites
i buona suorte
.

Bisneta do tiu Manolacas, toda divertida, na festa do Naso. Fotografia tirada há 30 anos.

NAZO

O automóvel rasgava os campos pardos e pedregosos, acachapados pela canícula de Setembro.
‑ Esta viagem de Cicouro ao Nazo ‑ explicava o Manuel Transmontano, com uma ponta de exaltação na voz ‑, fazia‑a eu todos os anos a pé, eram cinco horas bem medidas a dar às canelas por esses caminhos de cabras. Desde que comecei a ter barba na cara, não me lembro de ter faltado a uma festa do Nazo. Aquilo sim, eram bons tempos. E aqui, nesta encruzilhada, foi onde me saiu ao caminho um lobo, quando eu, altas horas da noite, regressava a casa da festa da Nossa Senhora da Luz...
‑ Ó pai, já lhe ouvimos essa história vezes sem conta, e sempre com uma versão diferente ‑ repreendeu‑o a filha, piscando o olho ao Michel.
‑ Mas é a pura verdade. O que me valeu foi que nesse tempo eu era só pele e osso e o lobo, com certeza, não me achou grande fartura, deu meia volta ao rabo e foi à procura de presa mais gorda.
Rabugento, afligido pelo calor, faces rosadas em brasa, o Pierre saltava duns braços para os outros.
- Se te portares bem, prometo mostrar‑te os burros na feira
Logo o petiz se aninhou, sem tugir, no regaço da avó. Doido por burros, num alvoroço, durante aqueles primeiros oito dias de férias, arrastara sem descanso o avó aldeia fora, por cortinhas e currais, no encalço das pachorrentas alimárias.
‑ Eh Michel, no próximo Natal, dá um burro ao teu filho. É o melhor presente que lhe podes oferecer.
*
Foi entre risadas que chegaram ao Nazo. No alto do monte escalvado, a capelita de talha austera desafiava o tempo, os sinos num repique festivo.
‑ Está como há vinte anos ‑ murmurou o Manuel Transmontano.
E logo, os olhos carregados de evocações com o freio nos dentes, esquecido da família que fazia das tripas coração para o não perder de vista, misturou‑se ao povoléu. Perdeu‑se por entre as barracas de feirantes. mercou encarniçadamente um cinto de cabedal, abeirou‑se dos negociantes de gado, escutou a lábia dos ciganos que procuravam, tal como no seu tempo, vender burro velho por cavalo, juntou‑se às famílias que, no adro, à sombra dos choupos, abriam os farnéis imensos e desenrolhavam os garrafões de vinho. Já o sol dardejante ia alto e o ar vibrante, carregado de odores pesados, mal se podia respirar, o suor a abrir‑lhe regos pelas costas abaixo, arrastou a família esfalfada até às barracas de comes‑e‑bebes.
- Aqui, Michel,‑ voltou‑se para o genro ‑ vais‑te regalar com o melhor petisco do mundo. No Canadá não encontras nada disto, acredita em mim.
O Michel, a enxugar o suor do rosto com as costas da mão, ria meio aturdido pelas pinceladas fortes do quadro: as vitelas suspensas do travejamento do telhado dos barracões, a fumarada acre que subia dos braseiros onde a carne rechinava, as mesas de madeira corridas a abarrotar de comensais folgazões.
‑ Bien sûr, Manuel. Allons‑y.
Abancaram numa das mesas que acabara, por milagre, de vagar.
‑ Há tantas moscas por aqui ‑ queixou‑se a filha
‑ Já não é como dantes ‑ engelhou o nariz a mulher, olhando de esguelha os pratos de esmalte enbeiçados e limpando disfarçadamente o talher à fímbria da saia.
Mesmo o Michel, sempre tão delicado e esforçado por lhe ser agradável, também não o enganava, bem lhe sentia os olhos inquietos cravados nas mãos encardidas da velha que virava a carne no lume.
Só o neto é que parecia divertir‑se, aos pontapés a um canzarrão cheio de carraças que, debaixo da mesa, enxotava as moscas e o calor com o rabo.
‑ Claro que isto está como antigamente, vocês é que estão mais fidalgas. Mas se não quiserem, não comam que a mim não me faz grande diferença. Olhem, talvez encontrem para aí perdido algum McDonald's onde matar a fome.
E, quando a vitela veio para a mesa, enterrou vigorosamente a faca na carne suculenta. Levou um naco à boca e, lábios besuntados, a mastigar, regalado, deixou os pensamentos vogarem tranquilamente à tona da memória, até aos longínquos tempos em que, rapazote quase imberbe, depois de se banquetear com uma avantajada posta à mirandesa, à sombra daquele carvalho que dali avistava, estava em crer ser o mesmo, atrás dumas touças, perdera a inocência entre as coxas morenas duma cigana generosa.
- Em que estás a pensar? ‑ estranhou‑lhe a mulher o olhar vidrado.
A cara do Manuel Transmontano estilhaçou‑se num sorriso avelhacado.
- Logo à noite, conto‑te.

28.5.08

Feira de l Naso - 22 de Maio de 1954

Cume las trilhas se ban arrimando, nada cume ir ponendo uas eimaiges de cousas que faran falta alhá para finales de Julho i amprecípios d'Agosto.
L retrato este está uns dies atrasiado, mas l culpado ye l retratista que demorou an rebelar las chapas.
Fui tirado por Tiu Albino Bara - pai de Zé Agostinho Bara, de Malhadas i ten gente de Zenízio (Çpeciosa).
.
Buonas tardes
i buona suorte
.

27.5.08

L Teçtamiento de l Galho I

Cume ya falemos l'outro die - i l pormetido ye debido - bamos antón hoije a ampeçar la publicaçón de l teçamiento de l Galho.
An muitas tierras de l Praino, ende pul més de Junho - an Cicuiro péç-me que era l die de San Juan - los garoticos de la scuola fazien ua preciçón pul pobo c'un galho nun andor todo anfitado que aspuis daban a la pursora / pursor.
Los de la quarta classe lhebaban l andor i un deilhes lie l teçtamiento a la selombra de la moreira bien an frente de la casa de la scuola. A mi inda me tocou lê-lo.
Esse teçtamiento an berso fui escrebido por Tiu Antonho Andreia i l que bos apresento ye la recuperaçón possible de l'oureginal, cunseguida por la sue nieta Aida.
1
Em geral peço atenção
À gente deste povoado
Queiram ouvir meus senhores
O testamento de um galo.

2
Vinde galos e galinhas
Escutai e atendei
Por razões desconhecidas
A que estado eu cheguei.

3
Hoje logo de manhã
Fui preso e fui vendido
E em horrível procição
Andam às voltas comigo.

4
Sem fazer mal a ninguém
Tratam-me com crueldade
E já ouvi dizer a alguém
Que me iam sacrificar.

5
Como os meus antecedentes
Vou a ser sacrificado
Por meninos negligentes
Que de mim não têm cuidado.

6
Acusam-me de escandaloso
E violador da castidade
De egoísta e vaidoso
E de dar vivas à liberdade.

7
Mas eu já assim encontrei
E assim hei-de deixar
A tradição é uma lei
Que todos devemos guardar.

8
Partidário do amor livre
Sempre o fui e hei-de ser
E assim quero seguir
Bem ou mal até morrer.

9
Ó meu Deus das zombarias
Vem valer-me nesta hora
E que a Deusa da justiça
Seja a minha protectora.
Cuntina
Buonas nuites
i buona suorte
.

26.5.08

A maior do mundo



La torada fala eilha sola.
Buonas nuites
i buona suorte!

Cardadores




Esta ye la casa de Tiu Eduardo i de tie Catrina. I quando meti este retrato quedei meio ampena por bias de bos amostrar tamien la maior çreijeira dal mundo!
Se algun me dezir que ay ua maior you calho-me, mas anté esse die chegar esta será la maior de todas.
Puoda ser que inda un die tornemos a falar neilha, nas çreijas que toda la garotada de Cicuiro quemiu alhá, nos carros de l acarreio que çcansaban ambaixo (dezieram-me nuobe i cun rastra!) i cume aspuis de "seca" inda botou l galho que podeis ber.
Delfim Primo fala deilha ne l sou lhibro mas nunca ye de más mirar-la. Se astanho dir çreijas tenerei que le pedir ua manada a tie Adelina.
.
Buonas nuites
i buona surte ... para quemer las brumelhicas

25.5.08

Versos do Tiu Andreia


Para o Eloi (Bisneto) e para o Amadeu ( Estudioso e Poeta Mirandês)

Aqui envio mais uns versos do tiu Andreia publicados na revista Mirandum em 1986. Escritos no mirandês possível na época, falam de costumes que pertencem ao imaginário colectivo do planalto.

Puonte de Fuonte Espino


Esta puonte merece uas campanadas a cunceilho para que se puoda cumponer la piedra que la anchena botou abaixo.
Antes de haber esta lhagona, l ribeiro tenie uas peinhas adonde un se regalaba a ber los sapos conchos al sol. Hoije están na de l Molinico.
.
Buonas nuites
i buona suorte!
.

24.5.08

Autor da Monografia de Cicouro

TORRÃO, Júlio Delfim

Nasceu a 23/06/ /1938 em Cicouro, concelho de Miranda do Douro. Fez a 4ª classe com distinção na aldeia onde nasceu e aí viveu até cumprir o Serviço Militar em 1959/60. Em 1961 alistou se na P.S.P.. Integrado na 5a Companhia Móvel da RS.P. é destacado, em comissão de Serviço, para Moçambique, onde permaneceu durante 14 anos, exercendo 6 como polícia e 8 como oficial administrativo. Aí tentou conciliar a actividade profissional, a defesa dos interesses familiares e a prossecução dos estudos. Persistente, como todo o bom mirandês, elegeu os livros e o permanente esforço pessoal para atingir o acesso à Universidade, o que conseguiu em 1973, em Lourenço Marques, onde então trabalhava na Procuradoria da República com cargo de chefe de secção. Com a revolução do 25 de Abril de 1974, viu se forçado a regressar a Portugal, mas não abandonou o desejo de ir mais longe nos estudos. Colocado na Escola Secundária de Montemor o Velho, onde chefiou os Serviços Administrativos, concluiu a licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra em 1980 e, consequentemente, o estágio em advocacia. Na carreira administrativa, entre 1983 e 1999 desempenhou as funções de Inspector administrativo e financeiro do Ministério da Educação, na Delegação Regional de Coimbra, assumindo a coordenação do sector nos últimos seis anos. Como formador foi três vezes a Cabo Verde dar formação a novos inspectores daquele país com mais dois colegas. Foi Presidente da Assembleia Municipal de Montemoro Velho, durante quatro anos e desempenha há mais de dez anos consecutivos o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Cooperativa de Habitação Económica Tricana Conimbricense, sedeada em Coimbra, através da qual apadrinhou, com
muita carolice e canseiras desmedidas, a construção de três blocos com 66 habitações e 4 lojas, na vila de Montemor o Velho. Colabora com a imprensa local e regional, escrevendo, com certa regularidade, artigos sobre temas simples e alguns recados políticos à mistura. Embora viva e exerça a advocacia em Montemor o Velho, nunca esqueceu o torrão natal, onde reconstruiu os velhos casebres de seus avós maternos, livrando os da condenação à ruína total como parece estar a maior parte do velho casario da aldeia de Cicouro.

Domingos Raposo

In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura. Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães

23.5.08

Puonte de la Molineira

Quien bai de Peinha Redonda adreitos a Alcança Lhobos i se nun tomar atento, passa por anriba desta puonte i nien la bei. I quando se dá cuonta d'eilha, al melhor nien repara na obra de angenharia que eilhi está, toda feita an piedra suolta arrancada de las peinhas al pie de l camino, sien raça de cimento ou outras modernices.
Pena que le tengan tirado alguas guardas de los lhados.
Buonos dies
i buona suorte
.

22.5.08

CICOURO DAS MOÇAS GUAPAS

Numa página na net, sobre o folclore de Felgar, localidade do concelho de Moncorvo, encontrei esta preciosidade:

Os alhos são da Matela,
As panelas do Avinhó;
Os cucos de Pradinha,
E os búbelos, (poupa-pássaro) de Paçó
S. Martinho das tigelas,
Constantim dos pucarinhos
Cicouro das moças guapas,
e também dos valentinos.

21.5.08

Cicouro, Terra Querida

Todo mundo conhece a Tiu Andreia, mas mesmo assi nunca ye de más tornar a mostrar los bersos que él screbiu hai mas de binte anhos.
Se calha gustabades que bos acabasse de poner las puontes i puntones, bicas, lhabadeiros ou chafarizes (l'auga siempre, l sangre de Cicuiro). La mie gana era amostrar-bos todo d'ua beç mas cume cumprendereis l tiempo nun dá para todo. Al fin beremos se l bornal queda dreito i la capa nun deixa antrar l'auga.

Buonas tardes
i buona suorte
.

20.5.08

Puntones de l Ribeiro de los Castros

Quando se passa de las casas de Peinha Redonda adreitos a la caleija que bai de la lhagona de los Castros al balhe de Fuonte Spino, ai uns puntones ancostados al cerrado de baixo. Quaije nun se notam por causas que l ribeiro este anho está seco i la parede meio sbarrulhada nien los deixa ber bien.
Los freixos chenicos de liquens dán la grandeza de l ar puro de l termo.

Buonas nuites
... i buona suorte!
.

19.5.08

REGRESSO

O Manuel Transmontano acordou com o berreiro desenfreado dos galos.
Na cozinha, foi encontrar a irmã a tratar da lavadura dos porcos. Já o lume, num estralejar festivo, devorava um braçado de urzes.
‑ Está frio.‑ Sentou‑se no escano e avançou as mãos para o lume. ‑ Já parece o Canadá.
‑ Diz quem sabe que este ano vai nevar muito ‑ respondeu a irmã. ‑ Deixa‑te ficar aí que eu vou levar a bianda aos cochinos. O café já está quase quente.
O Manuel apoiou as omoplatas na dureza do espaldar do escano. Embrulhado num manto de mil evocações com o freio nos dentes: aquele lume estralejante a saltar‑lhe às mãos como um cachorro; o eterno caldeiro cachoante de água fumegante; os potes de ferro resquentando a sopa; aquele fumo acre que se acumulava em nuvens densas e azuladas, matizadas pela luz do dia nascente, lá junto às vigas escurecidas do telhado donde pendia a armação do fumeiro, as varas ansiosas pela próxima matança; aquele mocho de castanho polido onde uma fogaça e uma caneca esmaltada esperavam o café.
‑Estavas a dormitar? ‑ Era outra vez a irmã. ‑ Nem quero acreditar que desta vez vens para ficar. ‑ O rosto curtido, enrolado no lenço negro, ensopou‑se de lágrimas velhas. ‑ E assim se nos foi a vida, Manuel, estamos acabados.
‑ Qual acabados, qual quê! Se tu visses aqueles canadianos! Quando se reformam é para viver, não é para se sentarem à espera da morte. Então as mulheres, se as

visses, velhotas de setenta anos e mais, parecem umas raparigas novas, bem trajadas, nada destes lutos de cá, cores claras, ricos penteados.
‑ Isso não é para estas terras. ‑ O café escorria, num murmúrio bom, para a caneca.‑ Não sei se a tua mulher, a Alzira, se vai dar por cá. Isto é um cemitério de velhos.
A mulher atirou um capão ao lume que, quando se viu com forças, atirou os braços rubros ao redor do caldeiro.
- Ela aceita de boa cara o regresso? Nas últimas férias, não me quis parecer.
‑ Que remédio tem ela.
Regresso! Palavra de mil alquimias. Nos primeiros tempos do Canadá fora abençoado remédio contra os males da saudade e do desenraizamento. Depois, à medida que novas raízes começaram a rasgar húmus imprevistos, transformara‑se, sem se darem conta disso, num processo lento, num espinho cravado nas carnes, num agente perturbador da paz de espírito.
Para não lhe perder o sentido, o Manuel, de tempos a tempos, evocava‑a: quando me reformar, regressamos a Portugal.
E semanas atrás, ao serão, num assomo de coragem, reunira as forças dispersas que lhe restavam, para falar:
"Dentro de seis meses, atinjo a reforma. Deveríamos ir a Portugal, preparar o regresso.
A lavar a loiça, de costas, o fio de voz da mulher era quase inaudível:
" Vai tu, sozinho. Agora, não posso deixar o nosso neto. Além disso, não precisas de mim para tratar do que há a tratar."
‑ A Alzira não se vai dar por cá. Cicouro já não é terra para ela. ‑ tornou a irmã. ‑ Vê lá se ela quis vir contigo!
‑ Cala‑te, dianho de mulher.‑ exasperou‑se. ‑ Não
veio porque não tinha com quem deixar o nosso netinho. Mas que raio de conversa esta!
‑ Mesmo tu estás diferente. Já não és homem para te enfiar neste buraco. ‑ teimou ela.
‑ Vai lá tratar dos porcos, anda! Estás a ficar velha, é o que é. De muita paciência precisa o teu marido, para te aturar.
Meio apoquentado pelas palavras da irmã, nessa manhã, quando se sentou à mesa da cozinha para escrever à mulher, o Manuel Transmontano falou‑lhe da casa que os esperava de braços abertos, da fidelidade do cunhado que tratara das terras com tanto zelo como se fossem dele, dos vivos e dos mortos, e, lá para a segunda página, num arroubo de coragem: "em todo o caso, ainda me sinto novo para trabalhar mais um ou dois anos, não é preciso apressar o regresso, não está nenhuma mulher para parir." Ficava assim aberta a porta para futuras negociações, no regresso a Montreal.
Depois, de coração liberto, saiu de casa e foi, rua abaixo, a falar a este e àquele, tão naturalmente como se nunca tivesse saido da terra.

Caldeireiros - de l Palombar



Más ua famíla de Cicuiro que hoije lomeamos. Las nietas de tie Albertina péç-me que estás an Bregáncia. Si estás Tina? Pus antón toca a dezir i a cuntar para que puodamos cumpletar la cuonta esta.
I tu Jaime, assi que puodas, manda-me un retrato de la bica que está a la tue puorta que you solo m'acordei d'eilha aspuis de poner este retrato de la punta de baixo de l lhugar.
Nota: tiu Porfírio Caldeireiro era armano de tie Albertina e de tie Sabel, mas cume yá fui dito quando falemos de los Caberos, los Caldeireiros de la Pataca serán lomeados más adelantre.
Buonos dies
i buona suorte!
.

18.5.08

Perros Spanholes

quemércio de la filha de l "Goebero", na Lhuç

Habien terminado faer ua rambóia, cada qual lhebaba ua pieça de fumeiro, menos Antonho i l’armanico Manuel respunsables por la fogaça. L bino tenerie que benir de Mobeiros, más barato que l palheto de la taberna de tiu Xagatas.
Todo cumbinado para aqueilha nuite, juntan-se nos rodeinhos de Bouça Çanca. Ir i benir nun le lhebarie más de ua hora i meia, ou menos.
Atrabessada la raia i acerca de los castanheiros, todos calhados i an carreirina yá cul cheiro a escabeche de l quemércio de tiu Pedro, saltan-le de rumpón los perros de l ganado que drumie na corriça acerca de l camino. GAU GAU GAU GRRR … GAU GAU ..
Tanto cuidado para nun faer strelhouço i sal aqueilha bicharada toda a lhadrar tanto cume se houbira bido l lhobo. Se los carabineiros oubien, estaban amolados: alhá quedaba la rambóia sien bino i sien escabeche cun azeitonas.
Manuel, l más nobico, yera la purmeira béç que passaba para Spanha cume aprandiç de cuntrabandista i assi que se biu seguro an casa de l "Goebero" de Mobeiros, aspuis de l susto de la matilha, mira l restro de la quadrilha i cun ar de çcubridor …
- Carai! Los perros spanholes lhadran cume an Cicuiro!!?
.
Buonas tardes
i suorte! ... ne l cuntrabando.
.

17.5.08

Puonte de los Castros


Un die destes achei un dzeinho que me fizo lhembrar uns retratos que tirei pu'l termo.
La lhagona fala melhor que you.
.
buonas tardes
i buona suorte
.

16.5.08

Manolacas

Buonas nuites,

Hoije al final de la tarde cumbidoran-me a porbar uas quemenéncias adreitos al mar: selada de polbo, anguilas de escabeche, bacalhau cume nun se puode dezir que yê ua praga i se l senhor padre Paulo me oube inda me lhieba a la rastra cul sou cabalho, çorda cun polbo frejido ... you sei alhá quantas culidades más de charrascas puniran a la mie frente.
Çpenhiquei pouco de cada cousica mas si estaba buono. Anté se lhambien los dedos.
I you scusaba bien de bos cuntar esto mas estou cun eideias de bos anaugar cun la gana!
Yá uns meses que yera caldo de berças ou caldo de freijones, caldo de garbanços ou caldo de nabiças, caldo i caldo i más caldo! Nien l más deboto por caldo se aguanta. Algun die haberie que pecar. I pequei. Cun gusto mas pequei, á mai se pequei, l pior de la cuonta bai a ser la peniténcia que tenerei que pagar por esso ... que seia antón.
Mas la parte melhor fui quando cheguei a casa i abri la maleta esta de los botones para benir a ber se algun de bós nun se haberie escapado pul carreirón de la Lhagonica adreitos a Mobeiros atrás dalgua boieira espanhola. Se assi fusse anté que nun me amportaria, la carne ye fraca ... l que nun podereis ber, se bos scapardes, ye l'home que ten andado siempre por anriba de l Balhe assi cume un anjo de la guarda a dar fuorça para qu'este baldiu cunsiga los sous perpósitos. Chama-se Manuel Carvalho, nieto de tiu Manolacas i a partir de hoije eiqui ponerá l que achar por bien, an pertués ou an mirandés.

Bien benido Manuel a la casa que siempre fui tue.

... i buona suorte
.

15.5.08

Rodados de carro de bacas


O mesmo rodado con diferença de alguns anos entre as duas fotos.
Há exemplares muito melhor conservados. Quando vier a jeito mostram-se.
.
Buonas nuites
e buon acarreio!
.

Puntones de la Beia Grande

Seguindo l camino de l Molinico al para baixo están los puntones de la Beia Grande. Teçtemunhas de muito passico de boieiro nas caminadas adreitos a la Trabanqueira.
Ai que lhembrar que por este camino passaban poucos carros de bacas, a nun ser quando se tiraba l feno ou las galhas de los cerrados. L camino prancipal para acarreios i passaiges de l termo de baixo mudou-se pa la rodeira de los Brunhos que passa pu'l alto, cume bós bien coinceis. Hoije passa un carro legeiro de la Touça de l Cuco a la casa de la Buolta.

Buonas tardes
i Buonas caminadas!
.

14.5.08

Laica

Al salir de missa alhá estaba eilha a la puorta de casa siempre que nun salie cun l’amo pul monte ou a faer de cumpanha al boieiro. Chamaba-se Laica la perdigueira de tantas caçadas de Lházaro i la alegrie de la garotada quando le pediemos para mos dar ua manzada. Quedabamos ancantados cun las hablidades de la perra siempre que mos arrimabamos al cabanhalico de tiu Cassaco solo para ber l deitar, alhebantar, esticar la pata, saltar i anté correr atrás de algue bigarda chena de cuçpinha atirada adreitos al curral de la Abadia.
Bien espierto era aquel bicho que nun lhadraba a ningun garoto nien a los más atrabessados i que faie todico l que le mandaban: tanto iba a guardar las pitas de la raposa, punie a léguas los gatos çcoincidos cume quedaba la nuite anteira a guardar algue arado ou çadón deixado ne l termo de un die para outro, cume ua tarde que Laica nun bieno cun las bacas.
Que l tenerie acuntecido a la perra para nun haber benido cun l boieiro? Mas furan aguardando la sue chegada quando a la hora de la cena, aspuis de quemer las chebicas de berça nua malga meio sboucelhada ye que tiu Furmino dou por falta de la faquita palaçuola de quemer la merenda. Solo podie haber quedado na esquina de l cerrado de lo Siete a la punta de riba de l cabeceiro antre l’augueira e la esquina de la parede adonde habie feito lhume.
Acabada la cena, lampión na mano, bán a dar cun la perra deitada al pie de la dita faca cume se guardasse l maior tesouro de l mundo. I guardaba. Todo l que fusse de l amo, para Laica serie siempre la sue bida.
Aquel die tamien guardaba l esquife negro anriba de la mesa feita altar ne l meio de l’eigreija muda i frie, un die que nós nun tebimos que oubir las ladainhas mal cuntadas de ua “doutrina” de lhenga lhenga dada por catequistas tan analfabetas cume nós nessas cousas de Dius i de la religión. Quien iá tenie pouca deboçón inda quedaba cun menos. L que mos traie eilhi era la oubrigaçón ampuosta por nuossos pais para que nun quedassemos eireijes i por ua eiducaçón que esquemungaba qualquiera un que espreitasse para fuora de l’eigreija daqueilhes curas tan debotos cume l padre Juan.

Daba pena ber aquel animalico a cuincar tan baixico, talbéç cun miedo de acordar l’amo que repousaba antre belas i dous “Padre nossos” dun terço rezado antes de la redadeira çpedida. Tiu Candeias inda le dou dous puntapies para que nun antrasse n’eigreija – que diç que nun era sítio para perros - mas por Lházaro anté la podien anterrar biba que nun s’amportarie nien un cachico i se eilha antrasse nun serie l purmeiro perro a missa. Nien l último! Quejiran trancar la puorta mas assi que antraba algun xaile negro a anrebulhar ua alma, alhá estaba eilha a mirar i a ouliar al para drento, anté que deixoran antrar la perrica. Nun parou durante toda la missa, andaba de trás para delantre, debaixo de l caixón, lhebantaba l çofino i abaixaba las oureilhas, cerraba ls uolhos anquanto fareaba i aspuis lhatie tan lebe que mal se oubie.

Cada béç menos se tomaba atento al cura i más miraba la gente adreitos al bechico triste. Eilha sabie l que era la muorte i nós estábamos a ampeçar a cumprender-la. Eran liçones de bida a cada béç que algue persona se morrie i la garotada salie de la scuola para ber l defunto, ou antón quando acumpanhabamos a nuossas mais n’algun serano a rezar l muorto. Criaba-se cunçéncia de la muorte. La muorte que Laica choraba i que hoije escundemos cume se d’eilha tebissemos la maior de las bergonhas. Deixamos morrer los que más queremos atrás dua canhiça de panho, solicos, nalgue cama de spital antre ua picada cun morfina i un carón de çreija que al derretir pon froles i lhuzicas de quelores nun ultimo mirar pal mundo. Mas Laica nó, seguiu todo l camino antre los quatro que lhebaban l esquife anté l barranco cerca de l cipreste de l cortineiro triste cun piedras mármoles al alto i a la purmeira manada de tierra suobre la madeira a rugir a uoco, caminou pul meio de las eiras de la Cruç anté se anroscar quetica no cabanhal de la lheinha a espera que l’aire lhebasse l cheiro a campo esbaziado que ampestaba l sagrado i la preça de casa.

Nunca más Laica tornou a caçar. I se le benie meia gana, daba ua buolta a l’eigreija, fareaba la puorta de l lhado i tornaba a deitar-se nuns fachucos bielhos antre la lheinha i l carro de las bacas, cun oureilhas murchas i l mirar adreitos a nada.

Buonas tardes
i buona suorte!
.

13.5.08

L'antruido a la puorta de Tiu Praça

Possiblemente este retrato fui tirado por Tiu Praça / Tiu Cantino a la sue puorta. El tenie ua daqueilhas máquinas de trés patas i de anfilar la cabeça no saco de panho negro. A Maria, a Elias i a Tolentino, causo tengan retratos destes, mesmo que nun los quergan amostrar, pido-le que nunca los perdan. Que balor nun tenerá ua eimaige destas para un nieto ou biznieto de tiu Zé ?!?!?!
Lházaro Cassaco - l amo de Laica, la perra más lista que yá se biu - está sentado ne l bombo i tiu Zé Monteiro trai la caixa.
L'outra gente nun sei quien ye mas tie Júlia apunta-los todos. A mi l garotico asparece-se a Diamantino Sanjoanico i talbéç que la garotica çcalça seia la armana.
Pu l'eidade de las personas, talbéç tenga sido tirado cerca de 1950.

Buonos dies
i buona suorte
.

12.5.08

Calachas


À Demingos, mira a ber quando chegan los retratos que tue abó te dou i que són bien belhicos. Mas se nun quejirdes ... amostraremos las çreijeiras a la puorta ou la pereira de las peras tempranas por trás de la casa adonde estaba l quemércio i la dega. Anté de nuite se coincien las maduras! Tu nun t'anraibes que l crime iá prescrebiu. Félç ye que sabie cume era. :)

buonas tardes
i buona suorte
.

11.5.08

Cicuiro Perdido?!?!


L'outro die Cicuiro apareciu ne l Jornal Nordeste.
Diç que está perdida. Ou será "perdido"? ... ahn, se calha ye aldé perdida. Assi iá me calhais!
Mas antón se está perdida cume la achestes bós?
Nun me lhebeis a mal, mas al melhor bós ye que bos perdistes i aspuis dezistes que fui essa "tierra".
Nun dapranderiedes la cuonta de Abílio Modarra i de la sue Catraia?!?! essa tamien andaba perdida ...
Un die destes quando benir a modos iou cunto-la, a nun ser que algun l querga faer por mi, cousa que agradeço.
.
Buonas nuites
i buona suorte.
.

Puntones de l Molinico


Destas paredes i alrededores saliran muitas piedras para aguçadeiras!
.
Buonas nuites
i buona suorte
.

9.5.08

Armandina

Aquel anho la besita al santuairo de la Bierge de l’Aparecida fui menos apressiado. L nieto yá tenie cinco anhos i nun era neceçairo andar cun panhales nien cun lheite angarrafado que el sorbie pu la teta de borraixa.
Ajoeilhada delantre de l altar pensou na sue Birge de l Rosairo i nas lhágrimas que se escurrien de l curaçón siempre que pensaba naqueilha eimaije de santa cun pelo quelor de ouro que quedaba eilhi quetica na eigreija donde la batizoran. Fazie quarenta anhos que deixara Cicuiro cul sou home i la filha, fugida de fomes i canseiras an busca de dies menos agres i más calientes do que naqueilha tierra çquecida ne l fin de mundo. Achou l calor i antruidos cume nunca manginou mas aquel lhembrar de las boiadas no Balhe de la Baglina nien un die le saliran de l’eideia: L pai, la armana, l armano, cunhados i suogros, todo quedara para trás. Nun fura la cumpanha de l’home, de la filha i de los nietos i todo nun passarie d’un çterro. I esse anho eilhi estaba eilha outra béç delantre de la Santa ora rezando ora quedando quetica cume un reixenhor amansiado a pedir fuorças para poder tornar un die a sue casa. Si, que la sue casa era lhougo eilhi antre l’eigreija i l ribeiro.
Furan salindo daquel sagrado maior que cien eiras de Bouça Çanca cun las promessas cumpridas i los deseios pedidos, adreitos a ua sierra mui alta, anté la pensón que l genro habie guardado para çcansar dous ou trés dies cun toda la família naquel lhugar antre sierras, loinge de l mar i de l rebolhiço de la grande cidade. Furan chubindo chubindo anté quedar bien ne l alto i donde se podie abistar meio mundo.
Inda se you bisse los pinhos de tiu Primo na Cándena, pensaba Armandina. Esses abistaban-se zde l cabeço de Mogadouro, mas daqueilha Mantiqueira … solo se bien cidades grandes, uas seis ou siete. Al sentir la mano de l sou home ne l ombro, apuntou adreitos al mar, agarrou-le los dedos cun fuorça i dixo-le cun la bóç a tembrar que nun passarie outro anho sien beber auga de la fuonte de la Senhora. I inda haberie fuonte de la Senhora?!
Nien meio anho passado i yá eilha i l nieto estaban na carreira de l Santos que bai de Lisboua a Miranda. Habie dues nuites que nun dromie i l suonho tamien nun l apertaba. De Pertual pouco habie coincido a nun ser la biaije anté l barco que la habie lhebado pal Brasil, mas parecie todo tán zfrente. I staba: l pai, un santo i buon home i los suogros yá habien muorto, l cunhado reformado de la Alemanha, fuora las casas, las estradas, la lhuç por filos, l’auga an canhos, tratores, alcatrán i gente bielha de la sue eidade i nuoba que nunca saberie quien era nien que la bisse a la sue puorta.
L curaçón batie más fuorte quanto más cerca estaba de l lhugar. Salida de la carreira an Miranda, inda tenie que apanhar outra para Cicuiro. La de Lisboua quedaba eilhi.
Dous ou trés rapazolas de fardeles cun quelores que tamien iban para aqueilhes lhados, era la carreira de ls estudantes, ajudoran-la a meter las malas. Si habie crecido Miranda! De ua cousica an drento de las muralhas puso-se quaije anté Peinha Branca! Yá nun pensaba dreito solo de manginar cume ancuntrarie la sue tierra mas inda le pediu a l cundutor que la abisasse quando chegasse a Cicuiro.
Abisar quando chegasse a Cicuiro? Bá, nun sei porquei, pensaban ls estudantes i l cundutor. An Cicuiro nun demudaba nada a nun ser los uolmos que se habien secado todos i un ou outro palheiro caído, mas esso nada, que l de más estaba eigual al que siempre coinciran! Quien serie aqueilha persona i l garotico a falar brasileiro? Al melhor andaba perdida ou buscaba algun amigo ou pariente por aqueilhas paraiges.
Aquel oulhar miraba para todo: la estrada, las touças, l cielo, las personas, nun le escababa nien mosca. La carreira parecie parada antre l semitério i l meio de l lhugar quando se oube ua bóç:
- Cicouro!
Que poulo dou l curaçón! Si aguantarie? Armandina mirou pa la puorta, aspuis para todos, agarra la mano de l nieto cun fuorça i al pisar fuora de la carreira, antre choros i a çelhuçar, a muito custo inda cunseguiu dezir … “o … meu … Cicouro”. Naciu-le ua bida nuoba. Agora si podie chorar a la farta las lhágrimas que quedoran guardadas toda la bida. Ai cachicos que balen todo l que ai neste mundo i esse era un d’eilhes.
Ancubriu-se la carreira para alhá de Sant’Amaro i cun las malas de biaige inda ne l meio de la estrada, todo mundo cuntinou calhado a oubir l ribeiro que naqueilhes uolhos corrie i que a ls poucos ceboran ls manantiales lhacrimales de trés ou quatro estudantes que se ancantóran a ouserbar l milagre que ua tierra puode faer a ua filha que l bejita aspuis de tanta auga haber nacido na fuonte de la Senhora.

Buonas nuites
i buona suorte
.

8.5.08

Puntones de los Uolmos de la Rodeira

Al mesmo tiempo que falamos nas personas de l Balhe de la Baglina, péç-me que tamien nun será mal de todo se furmos besitando l termo i falando suobre el.
Assi, cuntinuamos hoije ua biaije por puontes i puntones (yá falemos de la puonte de Matáncia i de l'outra acerca de l nial de Picanço), mas por agora (falta-me Baldeglina, la Trabanqueira, la Buolta de l lhado de Matáncia, Fuonte Espino ...) i dalguns se calha yá nun se bos acorda d'eilhes.
De l lhado squierdo deste camino inda ai están los puntones que hoije por bias de chober menos quaije naide usa. mas están alhá!
La cria iba pul camino i las personas por la calçada zde la cortina de tiu Andreia anté acerca de l lhugar.

Buonas nuites
i buona suorte
.

7.5.08

Çreijeiras de tiu Cristo


Hoije deziran-me para bos amostrar más uas çreijeiras. Las de tiu Cristo, çreijas brancas i docicas que inda muitas bezes l apanhei l gusto.
Mas nun fui you solo.
A mi inda me iban calhando las de riba quando se chegaban d'anriba de l burro ou quando tie Oulinda me dezie para me chubir neilhas, mas los perros de tiu Calachas cume eran más gulosos i solo le gustaban la más docicas, quemien las que quedaban ne l suolo yá passadas! Nien quedaban que eilhes nun le daban tiempo. Péç-me q'inda las apanhaben ne l'aire.
Ah! I la gente que está no retrato esse die nun quemiu çreijas, quemiu bitela que a mi deziran-me-lo.
Buonas nuites
i buona suorte
.

6.5.08

Agricultura biológica

Un die destes al passar an Sant'Amaro al pie de la cruç, dei ua espreitadela pa la binha que fui de tiu Delgado i que agora está partida an trés.
Na de l meio - la de Fernando - chamou-me a la atençón ua semanteira de antremoços antre balados.
Quedei un cachico a ouserbar aqueilha ambultura i tirei-le l retrato que bos amostro.
Diç que ye agricultura biológica i que assi nun ye necessairo botar-le nitrato por causas que aspuis de l'antremoçal quedar cobierto por la arada bai-se a apodrecer e a azotar la tierra.
I inda ai quien diç que solo se daprende cun doutores i angenheiros ... muito si, mas nun chega.

Buonas tardes
i buona suorte
.

5.5.08

No Baldión




Trés retratos d'ua teçtemunha de Cicuiro. L nial mudou i yá nun ye no uolmo a la puorta de tiu Luissito. Mudou-se para un freixo nos cerrados de l Prado.
Mas qualquiera die torna a los uolmos que yá bán bien altos i gordos. You bi dous que yá daban las baras d'un carro de bacas. Chico Bonito ye que sabe, fui el que me los amostrou.
A ber se alguns crecen no meio de l lhugar para botar uas selombras i scunder niales de pardal. Se a algun se l'antolhar i se la junta nun fur contra, que se pongan dous u trés ne l canteiro al pie de l lhabadeiro.
.
Buonas nuites
i buona suorte
.

4.5.08

Caberos


Falta-me l nome de los garotos de Rosária i l apelhido de Alírio. Assi que los dezirdes yá los ponerei.
.
Buonos dies
i buona suorte
.

3.5.08

L purmeiro lhibro suobre Cicuiro


Hai un par de dies chegou-me un lhibro suobre Cicuiro! Sí. Suobre Cicuiro, la gente, l termo, tradiçones ... cousas que mos ponen a todos chenos de proua!
Cume me dezie l'outro die tie Lucinda quando miraba para uns cacaforros de l tamanho d'ua raba, nas eiras de Bouça Çanca:
Poderemos dar muitas buoltas pul mundo mas ningun cachico tenerá tanto balor cume l que mos biu nacer.
I ye esse cachico, tán pequerrico i a bezes tán çquecido i scundido antre la raia i l sierro que bota poulos de cuntento siempre que un de los sous usa un cachico de tiempo - tiempo que Dius dá de graça, cume me dixo l'outro die tiu Moisés - para l lhembrar i dar l balor que él merece.
Oubrigado Dalfin.
.
Buonas nuites
i buona suorte.
.
Nota: Delfim Torrão (l garotico de la gorrica) ye nieto de tiu Primo Torrão. Quando saliu para ir a la tropa tenie la quarta classe. Trabalhou i estudou. Hoije ten escritório d'adbogado an Montemor o Velho, cidade que l aculhiu.

2.5.08

Las Maias

Tenie tiu Primo un soutico de castanheiros eilhi pa los lhados de Bal de Palombino, a bien dezir a meio camino antre Cicuiro i Samartino, ancostados a los rodeinhos. Todos los anhos era la mesma cuonta: castanheiros bien floridos, aspuis cargados de pelhiços mas quando pingaban parecie que la tierra angulhie las castanhas!
Por cierto habie marosca, rataria nun serie, gralhadas tampouco i gambusinos nun tenien beiços pa las abocar lhougo al salir de l pelhiço!

Ampeçou antón tiu Primo a çcunfiar que se cálha serie gente de Samartino que se iba a eilhas. Sí, que se hoije haberá más soutos an Samartino que ne l resto de l cunceilho, dantes haberie ua meia dúzia de castanheiros i l lhugar lhebaba gente cume auga la ribeira nos dies de anchena.
Quedarien los castanheiros debaixo de uolho i cume él era caçador listo i bien sabedor de todas las squinas de l termo, irie çcubrir cume chegar sorrateiro anté eilhes.

Un die por la manha a la hora de estar na semanteira, spingarda de cargar pu’l canho ambaixo de l braço i un perrecheco conelheiro de buscar rocos nas queiruolas, aparece tiu Primo por trás dun rodeinho e dá de caras c’un marmanjola chubido nun castanheiro a saltar nun galho pa’lo barear a poulos de cholas. Grande carrapito esse comedor de castanhas! Espera que a ti bou-te a pregar un susto que te bás a acuordar bien d’él, pensou tiu Primo.

- Á rapáç! Baixa baixa que tenemos uas cuontas a justar los dous. Anda que las castanhas yá te las bou you a dar!

Cepa tembraba más que ua brime nas manos de un cesteiro arreliado. I la cuonta nun era para menos: aquel home eilhi de spingarda quaije apuntada i él spindurado d’un galho i cun los pies noutro nun tenie muitas salidas.

- Anda anda que las castanhas bán-te a salir belhós calientes. À miu melro que desta si te apanhei.

Siempre cun l’apanhador de castanhas debaixo de uolho, pega nun palo e traça ua raia.

- Pus mira, atirar tengo que atirar. Tu quieres morrer parado ou a correr? Sólo cunto anté trés!
Tentando ua soluçón menos delorosa, Cepa inda tentou negociar mas las palabras nien salien dreitas.

- Ma … ma … ma …

- Nun hai tutias, buolbie tiu Primo, pon-te listo se quieres. A la ua …

- Ma … tiu …

- Yá te dixe. Nun hai mas nien meio mas. A las dues …

Nun relhampo queda Cepa cun los pies na raia a spera d’ua muorte quaije cierta, mas a correr inda se poderie salbar!

- A las trés! PUUUUUMMMMMMMMMM

Tanta fuorça que botou ne l arranque mal oubiu l stouro de la spingarda, chimpa-se anroscado n’uns pelhiços que queda cun las manos i la cara chenos de picos, lhebantou-se i puso-se a correr i a chorar adreitos a Samartino:

- Maaatouuu -me; ai ai ai ; maaatouuu - me; ai ai ai ; maaatouuu - me; ai ai ai …

Iba nesta ladainha a chorar, a correr i a botar sangre por bias de los picos de los pelhiços quando ne l meio de l lhugar de Samartino le perguntan:

- Antón que te passou rapáç ? Quien te matou ?

Nesse momento pára. Más pu la canseira que por las picadas:

- Maaatouuu -me; ai ai ai ; maaatouuu - me; … mas él si me matarie?!?!
...

No die purmeiro de Maio, cerca de l anho dous mil, inda tiu Paco de Samartino tenie la serraçón, fui-se tiu Moisés i un nieto de tiu Primo (Demingos) alhá para serrar uns freixos. Un d’eilhes lhebaba ua manada de castanhas cozidas - diç que quien las come ne l die purmeiro nun le duole la cabeça durante l anho! – quando passa Cepa para falar cu’l serrador.
Demingos saca de meia dúzia de castanhas de l bolso, dá ua mordida nua i roga cun las outras a todos. Tiu Moisés i tiu Paco aceitan mas Cepa que nun era spirulho ningún, agradeciu, quedou quieto i calhado i nun amostrou miedo de los delores de cabeça.
Tiu Paco mira a Primo i c’ua risica de pirraça pergunta a Cepa:

- Bá home! Al menos proba-las! Nun digas que las conheces!

- Cume las hei-de coincer?! Falais falais, mas l que estaba ne l outro castanheiro parou de correr quando chegou a las Trés Marras!

Buonas nuites
i buona suorte
.

1.5.08

Tiu Primo Torrão


Tiu Primo. L pai de tiu Zé Primo i tetrabó de Elói.
L amo de alguns de los castanheiros de Bal de Palombino. :)
Buonas tardes
i buona suorte
.